O som que preenche o ambiente mistura instrumentos como bateria, surdo, agogô e tamborim. Mas, entre uma música e outra, o ritmo acelerado dá lugar a risadas e conversas animadas entre mulheres de diferentes idades. É nesse compasso descontraído que se desenvolve o ensaio de As Batucas – Orquestra Feminina de Bateria e Percussão, projeto que completa um ano e terá show de aniversário neste domingo.
Professora e baterista da banda DeFalla, Biba Meira é a entusiasta do grupo. No fim de 2014, ela voltou a ser assombrada por uma pergunta: por que as mulheres não costumam colocar os pés no palco para tocar? A questão surgiu enquanto assistia à apresentação de suas alunas da Batuca Escola de Bateria e Percussão, que mantém ao lado de Claudio Calcanhotto, e acabou como estímulo para a criação do projeto feminino poucos meses depois.
Leia também
Mulheres conquistam espaço na bateria dos blocos de Carnaval de Porto Alegre
Madonna rebate acusações: "É sexismo e misoginia"
Sony estaria encerrando contrato de produtor envolvido em caso de Kesha
– Me deu vontade de criar uma banda só de bateria, mas acabei desistindo. A ideia foi amadurecendo e pensei na orquestra de bateria e percussão. Existe o mito de ser algo para o homem, mas é mentira. É técnica. Aqui, o único pré-requisito é ser mulher – conta Biba, que coordena a orquestra ao lado do mestre Vini Silva.
As Batucas funcionam como uma escola-banda. Hoje, aproximadamente 60 mulheres se dividem em três turmas com encontros semanais. O objetivo é se apresentar, mas também aprender. Nesse primeiro ano, já foram pelo menos seis shows – o número de convites para espetáculos ultrapassou a marca de 20.
– O projeto foi muito mais do que eu esperava, foi um susto. É considerado o primeiro nesse formato em Porto Alegre e lotou todas as turmas. Acho que aqui as mulheres se sentem mais à vontade, mais seguras. É um empurrão, pois muitas já se encorajaram para tocar em outros lugares – explica a baterista.
Diversidade é marca do grupo
No repertório da orquestra, se destacam os ritmos brasileiros. Rock e funk também devem entrar nos shows com arranjos especiais. O ensaio do grupo mais parece uma grande confraria. A cumplicidade entre mulheres e meninas de 11 a 60 anos nos bastidores acaba transbordando para a sonoridade, ressalta Biba:
– É um ambiente muito amigável, nos tornamos uma grande família. Não é um clima de cobrança, tenho pavor disso. Elas juntas têm uma energia muito forte, e é isso que importa.
A orquestra reúne perfis distintos: há comerciantes, jornalistas, sociólogas e profissionais da saúde, entre outros. Muitas tiveram o primeiro contato com a música por ali, como a enfermeira Valentina Gomes da Silva, 52 anos. Assistindo a uma apresentação da escola de Biba Meira e Claudio Calcanhotto, ela tomou coragem e entrou na segunda turma das Batucas.
– Me joguei mesmo, não sabia tocar nada. Nunca tinha chegado perto de percussão. Me espantei de ver o número de mulheres interessadas. Aqui a gente se sente mais livre – conta Valentina, que toca rocar.
Entre as mais novas do grupo, a estudante Julia Pianta, 20 anos, já esteve em turmas formadas por homens e mulheres e considera o machismo um dos grandes empecilhos da área. Na prática, o preconceito existe, relata:
– O mundo acha que percussão e bateria não é coisa de mulher, que necessita força. Se tu erras, é porque é mulher. Aqui não é assim.
Como participar
– As Batucas – Orquestra Feminina de Bateria e Percussão
– Três turmas com encontros semanais
– Encontros às segundas, no Ocidente (João Telles, esquina Osvaldo Aranha), e terças e quartas, na sede da escola (São Manoel, 72)
– Das 18h30min às 20h
– Informações pelo e-mail bibagmeira@gmail.com
Festa de um ano das Batucas
Domingo, às 17h.
Em frente ao Carmelita (Travessa do Carmo, 54).
Entrada franca.
Em caso de chuva, o evento será transferido.