Com a programação interrompida em razão de um impasse burocrático, a Cinemateca Capitólio (Demétrio Ribeiro, esquina com Borges de Medeiros) reabre no fim de semana por um grandioso motivo: exibir três clássicos do britânico David Lean (1908 – 1991). Trata-se de um dos grandes realizadores da história do cinemas, reconhecido pela fase de sua carreira em que assinou superproduções que só podem ser contempladas com a devida reverência em uma tela grande como a do Capitólio.
As cópias em 35mm de A Ponte do Rio Kwai (1957), Doutor Jivago (1965) e A Filha de Ryan (1970) desembarcam na Capital pinçadas da mostra O Cinema Total de David Lean, completa retrospectiva do diretor exibida no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo. A Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da prefeitura de Porto Alegre teve a parceria da produtora Firula Filmes e do CCBB para promover o evento.
– Não tinha como postergarmos a mostra porque as cópias vão voltar para a Europa – explica Marcus Mello, responsável pela Coordenação, que administra o Capitólio e também a Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro.
Após o recesso de final de ano, o Capitólio deveria retomar sua programação no começo de janeiro. Mas o vencimento do contrato emergencial da projecionista contratada venceu – foram os dias que ficaram pendentes com a profissional que garantiram as sessões de sábado e domingo. O outro projecionista do espaço, que pertence ao quadro funcional, está de férias. Apenas com seu retorno, em fevereiro, segundo Mello, a programação poderá ser retomada. Ao mesmo tempo, a expectativa é que se cumpram os trâmites burocráticos na Secretaria Municipal da Cultura para a contratação de um segundo projecionista.
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Segundo Mello, os três filmes de Lean foram escolhidos em razão de sua representatividade – outra obra fundamental do diretor, Lawrence da Arábia (1962), foi destaque recente em um projeto que exibe clássicos restaurados no suporte digital. O valor total para exibir os títulos, incluindo o processo de legendagem eletrônica, é de R$ 15 mil. As sessões na sala com 164 lugares têm ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).
Outra questão urgente que o Capitólio tem a resolver é a aquisição do sistema de projeção digital DCP, que se tornou o padrão das distribuidoras de filmes. Sem ele, a sala fica impedida de exibir lançamentos e, por isso, restrita a títulos de acervo em cópias em 35mm, que estão desaparecendo do circuito.
– Queremos resolver isso ainda no primeiro semestre. O DCP faz parte do projeto que encaminhamos à LIC-RS e está para ser apreciado. Também estamos alinhavando proposta de patrocínio para o Capitólio – revela Marcus Mello.
Enquanto o DCP não vem, o responsável pela programação do Capitólio, Leonardo Bomfim, encara a missão de procurar pelo Brasil as cada vez mais raras cópias de filmes em 35mm em boas condições de exibição. Títulos estrangeiros novos, ele explica, não são mais disponibilizados no formato.
– Estamos alinhavando uma mostra com filmes do cineasta Ingmar Bergman disponíveis em 35mm, entre eles Gritos e Sussurros (1972) – adianta Bomfim. – Negociamos também o lançamento de Éden (2013), de Bruno Safadi, que ainda não chegou ao circuito. Uma proposta do programador para a retomada, em fevereiro, é apresentar títulos que tiveram passagem discreta pelos cinemas, com obras de diretores como Apichatpong Weerasethakul e Jia Zhang-ke. Dois diretores brasileiros estão com mostras no horizonte: Paulo César Seraceni e Carlos Reichenbach.
As sessões
Sábado
16h – A Ponte do Rio Kwai (1957): em um campo de prisioneiros mantido pelos japoneses na Birmânia durante a II Guerra, oficial britânico (Alec Guinness) é desafiado a construir uma ponte para o inimigo. Pragmático, ele aceita a missão como forma de elevar a moral de seus homens, tendo como contraponto um oficial americano (William Holden) que deseja mandar a ponte pelos ares. Entre as muitas cenas memoráveis deste clássico, está marcha assoviada pelos prisioneiros que se tornou um clássico das trilhas do cinema. Produção vencedora de sete Oscar, incluindo melhor filme, direção e ator (Guiness)
20h – Doutor Jivago (1965): Omar Sharif e Julie Christie estrelam a adaptação do livro do russo Boris Pasternak sobre um médico aristocrata e uma jovem enfermeira que vivem conturbada paixão em meio à I Guerra e a Revolução Russa. Ganhou cinco Oscar, com destaque para a estatueta de Maurice Jarre, pela trilha sonora imortalizada pelo Tema de Lara, nome da personagem de Julie.
Domingo
17h – A Filha de Ryan (1970): durante a I Guerra, em uma pequena cidade costeira da Irlanda, mulher que vive um casamento frio e infeliz com um professor é acusada de ter um caso extraconjugal com um oficial inglês. Com Robert Mitchum, Sarah Miles e John Mills, vencedor os Oscar de ator coadjuvante.Freddie Young assina a exuberante fotografia também vencedora da estatueta, filmada no grandioso Super Panavision 70mm que Quentin Tarantino usou para emoldurar seu faroeste Os Oito Odiados.