Depois de sete anos sem mostrar um trabalho inédito, Chico César lançou no ano passado Estado de Poesia, cujas 14 faixas passeavam por ritmos brasileiros familiares a quem acompanha a trajetória do músico: reggae, forró, frevo, toada e samba. O disco poderia ser apenas mais um competente registro de carreira não fosse por conta da sensibilidade e da inteligência com que o cantor e compositor acrescentou a seu material uma sonoridade que ecoa a música brasileira influenciada pelo rock eletrificado nos anos 1970 - produzida por nomes como Novos Baianos, A Cor do Som, Gilberto Gil, Sérgio Sampaio, Luiz Melodia e Walter Franco.
A turnê de Estado de Poesia - projeto contemplado pelo edital nacional do Natura Musical - chega enfim a Porto Alegre: Chico César vai apresentar na noite desta quarta-feira, no Teatro do Bourbon Country, o show do álbum recente, considerado pela crítica como um dos melhores de 2015 no Brasil. A banda que acompanha o paraibano é formada pelos conterrâneos que também gravaram o CD: Xisto Medeiros (contrabaixo), Helinho Medeiros (teclado), Gledson Meira (bateria) e Escurinho (percussão) - além da sanfoneira baiana Lívia Mattos.
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- Todo mundo fica injuriado quando eu digo que era fã de Teixeirinha e Mary Terezinha. Para mim, eles traduzem o Sul como Luiz Gonzaga traduz o Nordeste e Pinduca traduz o Norte. Mary Terezinha é linda, não é à toa que tenho uma sanfoneira linda na minha banda - explicou Chico em entrevista a Zero Hora na época do lançamento do disco.
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Além de sucessos tipo Mama África, Pensar em Você e Onde Estará o Meu Amor, o repertório do show inclui temas novos, como as músicas que compôs para a namorada, a atriz paraibana Bárbara Santos: Caracajus ("Lança agora tua âncora bárbara / Como um piercing no meu peito"), Caninana, Da Taça, Atravessa- me e Museu - em que o autor casa a paixão amorosa com a experiência de seis anos à frente da Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba em versos como "Musa, eu sou seu museu / Aberto pra visitação /(...)/ Espaço cultural a ser preenchido pelo beijo".
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Se os baiões setentistas de Gil são a referência explícita em Caninana ("Acorda acordeom que eu tô sonhando") e Atravessa-me, a canção romântica italiana é a matriz deliciosamente parodiada em Da Taça. Já Negão é uma espécie de reggae-homenagem a Luiz Melodia ("Negam que aqui tem preto, negão / Negam que aqui tem preconceito de cor").
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Em Estado de Poesia, Chico visita ainda a morna cabo-verdiana na bela Miaêro ("Eu vou comprar uma sandália / Daquela de brasileiro / Chinela que no chão pisa / E faz um chiado maneiro"), emula os teclados dA Cor do Som em Guru e brinca de cantar como Moraes Moreira no samba tipicamente novo-baiano Quero Viver - parceria póstuma com o poeta Torquato Neto (1944 - 1972). Tem lugar até para Adoniran Barbosa nesse caldeirão sonoro: a ótima No Sumaré atualiza o retrato da fratura social paulistana de Saudosa Maloca. Finalmente, a faixa bônus Reis do Agronegócio, parceria com Carlos Rennó de letra quilométrica, remete a alguma canção de protesto de Bob Dylan.
- Reis do Agronegócio tem a ver com o Joquim, do Vitor Ramil. Esse disco é uma volta a um tipo de liberdade que, apesar da repressão, havia nos anos 1970 e que eu vivenciei. Trabalhei em uma loja de discos dos oito aos 15 anos, de 1972 até 1979, lá em Catolé do Rocha, e escutava de tudo. Kleiton & Kledir não acreditam que eu escutava Almôndegas por lá - relembrou Chico, que apresentou em Porto Alegre, em 2014, um antológico show em homenagem a Vitor Ramil, no qual reinterpretava com sabor nordestino as canções do cantor e compositor gaúcho.
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"ESTADO DE POESIA" - CHICO CÉSAR
Nesta quarta-feira, às 21h. Duração: 90 minutos. Teatro do Bourbon Country (Shopping Bourbon Country - Av. Túlio de Rose, 80). Ingressos: R$ 40 para todos os setores. Descontos de meia entrada previstos em lei. À venda na bilheteria do teatro (a partir das 14h), pelo site ingressorapido.com.br e pelo telefone 4003-1212.
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Roger Lerina
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