
Em suas 10 edições, a Bienal do Mercosul ocupou diferentes espaços. Ao contrário da Bienal de São Paulo, que se concentra em um único lugar, no Parque do Ibirapuera, a mostra de Porto Alegre tem suas exposições distribuídas por diversos endereços, o que oferece ao público a oportunidade de desvendá-la aos poucos, percorrendo cada mostra individualmente.
Nesta 10ª Bienal do Mercosul, que termina no domingo, há mais de 600 obras, e elas estão distribuídas em mostras na Usina do Gasômetro, no Margs, no Memorial do RS, no Santander Cultural e no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. E, fora do Centro Histórico, ainda apresenta uma exposição no Instituto Ling, na Zona Norte.
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A galeria do centro cultural sediado no belo prédio desenhado pelo arquiteto Isay Weinfeld - por onde já passaram mostras de Nelson Felix, Karin Lambrecht e Carlos Vergara - acolhe agora a Plataforma Síntese, que intenciona oferecer um resumo do projeto curatorial desta Bienal, intitulado "Mensagens de uma Nova América".
Descentralizar o evento para ir ao encontro de outros públicos é uma boa ideia, mas não deixa de causar estranheza seu argumento um tanto na contramão. Na entrada da galeria, o texto na parede informa: "Localizada em uma região fora do centro de Porto Alegre, Síntese se caracteriza como uma manifestação deliberada de assinalar, conforme escreveu Frederico Morais no catálogo da primeira Bienal do Mercosul, em 1997, que 'o centro começa a ser modificado pelas margens'".
Ora, é forçado concordar que uma área nobre de Porto Alegre esteja de fato à margem do centro da cidade e engajada na transformação de uma região marcada por tensões urbanas que inexistem ou são silenciadas em um bairro de classe alta como o Três Figueiras.
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"Horizonte Infinito", de Flávio Cerqueira. Foto Tárlis Schneider, Divulgação

Melhor deixar o texto de lado e olhar a exposição no que ela oferece. Trata-se de uma mostra pequena, o que pode passar a sensação de ser acanhada frente à extensão das apresentadas nos espaços do Centro Histórico. Contudo, há aqui uma vantagem: a disposição mais espaçada dos trabalhos permite que sejam vistos individualmente e também no conjunto, a partir das relações que se estabelecem. É o oposto, por exemplo, da mostra A Poeira e o Mundo dos Objetos, uma das mais interessantes da Bienal em seu conceito e na seleção de trabalhos, mas que tem a apreciação visual prejudicada por sobrecarregar com tantas obras o pequeno espaço que ocupa na Usina.
Em Plataforma Síntese, os jogos visuais já começam na entrada: na escultura Horizonte Infinito (acima), de Flávio Cerqueira, vemos um garoto fazendo o gesto de quem observa com um binóculo o outro extremo da sala, onde é apresentada Tupi (abaixo), obra de Dudi Maia Rosa que se assemelha a um alvo. É um diálogo simples, mas que discute a visão como órgão privilegiado nas artes, aspecto que a Bienal busca colocar em questão na mostra Olfatória: o Cheiro na Arte, na Usina.
"Tupi", de Dudi Maia Rosa. Foto Tárlis Schneider, Divulgação

As presenças de um dos célebres Bichos (abaixo), de Lygia Clark, e de um objeto de Macaparana remetem às vertentes geométricas e construtivistas na América Latina que são o ponto alto da mostra Modernismo em Paralaxe, no Margs. A referida mostra A Poeira e o Mundo dos Objetos ganha sua síntese no Ling com obras de Brígida Baltar e do mexicano Gabriel de la Mora feitas com materiais efêmeros e precários, como pó de tijolo.
"Bicho", de Lygia Clark, remete às vertentes geométricas e construtivistas. Foto Tárlis Schneider, Divulgação

Um trabalho que remete à mostra Biografia da Vida Urbana, no Memorial do RS, é Limpos e Desinfetados (abaixo), de Paulo Bruscky. Exemplar da chamada arte postal dos anos 1970, quando artistas se valeram de meios como os Correios para driblar a repressão, a obra perde sua potência ao ser apresentada na parede dentro de uma moldura - o que não é uma invenção desta Bienal, mas faz parte do processo de institucionalização da arte.
"Limpos e Desinfetados", de Paulo Bruscky, é um exemplar da arte postal. Foto Tárlis Schneider, Divulgação

Por fim, dois artistas merecem um olhar dedicado. No Ling, há obras em que Waldemar Cordeiro usou, já nos anos 1970, processos de impressão de computadores IBM 360 como modo de criar imagens. São trabalhos inaugurais da conexão entre arte e tecnologia eletrônica no Brasil. Já o colombiano Alberto Baraya apresenta seus Estudos Comparados Modernistas, composição de diversos quadros que reúnem fotografias, objetos e desenhos. O trabalho faz parte de suas práticas de criação que realiza como artista viajante em expedições investigativas e poéticas.
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A 10ª Bienal do Mercosul começou no último sábado e segue até 6 de dezembro, com entrada gratuita. As exposições são apresentadas na Usina do Gasômetro, Margs, Memorial do RS (todos de terça a domingo, das 9h às 19h), Santander Cultural (terça a sábado, das 9h às 19h, e domingo, das 13h às 19h) Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (terça a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 18h) e Instituto Ling (João Caetano, 440, bairro Três Figueiras, segunda a sexta, das 10h30 às 22h, sábado, das 10h30min às 21h, e domingo, das 10h30min às 20h).