Diretor do inventivo Terra Deu, Terra Come, eleito em 2010 o melhor filme brasileiro do É Tudo Verdade, o mais importante festival de documentários da América Latina, Rodrigo Siqueira apresenta em Orestes outro projeto ambicioso - e um tanto mais complexo em sua proposta narrativa e estética. No filme que estreia em Porto Alegre nesta quinta-feira, o realizador mineiro combina registro documental e psicodrama para iluminar os sinuosos caminhos da violência e da (in)justiça no Brasil. Siqueira tem como matriz a trilogia Oréstia, tragédia grega escrita em 458 a.C por Ésquilo, destacando dela o julgamento de Orestes, que matou a própria mãe para vingar o assassinato do pai.
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Primeiro, são destacados dois casos patrocinados pelo Estado à época da ditadura militar: um ex-militante político visita o local onde foi torturado, a sede do famigerado DOI0-Codi em São Paulo; em seguida, uma mulher relembra a trajetória da mãe, uma guerrilheira morta nos anos 1970 por agentes da repressão, após ser delatada por seu companheiro, o Cabo Anselmo, figura nebulosa que circulou pelos dois lados da luta armada.
Em um segundo movimento, Siqueira reúne ambos com pais de jovens mortos pela polícia em circunstâncias duvidosas e com a coordenadora de um grupo de vítimas da violência que defende a pena de morte para marginais. Como em uma terapia de grupo, o diretor estimula, mais do que um debate, um confronto de múltiplas vozes interligadas pela violência de ontem e hoje. O desejo de vingança é da natureza humana? Consumá-lo leva a vítima de um mal a equiparar-se ao algoz? Para que lado pende balança da justiça no Brasil? São questões que pontuam a catarse psicodramática proposta ao grupo.
No ator final de Orestes, ousado e com resultado aberto ao risco de arrefecer a potência intimista que até então vinha imprimindo, Siqueira coloca seu coro grego diante da simulação de um julgamento em que juiz, promotor e defensor conduzem uma releitura contemporânea da tragédia de Ésquilo espelhada no episódio do Cabo Anselmo. Ali, entre as deliberações forenses de crime e castigo, estão sendo julgados os Orestes de ontem e hoje.
Nesta quinta, às 19h, Orestes terá sessão gratuita no CineBancários (General Câmara, 424), seguida por debate com presença de José Roberto Michelazzo, um dos personagens do filme.
Orestes
De Rodrigo Siqueira.
Documentário, Brasil, 2015, 93min, 12 anos. Estreia hoje no CineBancários e no Espaço Itaú
Cotação: 4/5