Tive uma namorada que temia à morte as estradas sinuosas. Um temor sério. Nas vezes em que a levei à sua cidade natal na Serra, a cada placa com uma seta inclinada, ela se agarrava ao banco, como se disso lhe dependesse a vida. Eu ria, ela resmungava, eu ria, ela apertava os dentes, e então eu a acusava de trair a coragem das sucessivas gerações de polacos que singraram campos e o mundo para que aquelas coxas estivessem ali na segurança (aparente) do banco. Houvesse mais oportunidades, teria virado um desses quadros de humor permanente que a intimidade funda.
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