Depois de 34 anos frente à Jornada de Passo Fundo, a professora Tânia Rösing não é mais a coordenadora do evento. Segundo ela, o afastamento foi motivado pela divulgação do cancelamento da 16ª edição do projeto antes do determinado pela Universidade de Passo Fundo.
Logo depois de ter divulgado que estaria fora do comando do "circo das letras", Tânia Rösing conversou com ZH sobre sua saída e ofereceu sua avaliação a respeito do cancelamento.
O afastamento da coordenação é doloroso?
Não, em absoluto. Estou em uma instituição que tem sua normas, mas elas não limitam minha competências criativa, cognitiva, afetiva. Cumpre-se a norma.
A senhora, então, concorda com o afastamento?
Isso é um problema deles (dos dirigentes da UPF). Cabe a eles a resposta. Só posso dizer o que aconteceu comigo.
Como a senhora vê as ações de apoio ao evento depois do anúncio de cancelamento? Elas podem reverte o quadro?
O propósito do Mário Corso e do Fabrício Carpinejar é maravilhoso (eles fizeram um crowdfunding para viabilizar a Jornada), assim como a carta aberta do escritor Caio Riter (da AGEs), e o trabalho da Luciana Savajet com Ignácio de Loyla Brandão e Marcelino Freire. São de grande sensibilidade e demonstram o desejo de que o projeto não acabe. São projetos que devem estar sintonizadas, para que seja possível trabalhar em grupo, pensando nas próximas edições. Mas, penso que, pelo posicionamento da universidade, não será possível reverter o quadro.
A senhora crê que não há chance do evento ocorrer?
Não. Não tem Jornada em 2015.
A senhora julga que houve falha na tentativa de captação de recursos?
Não. É um ano difícil. E, com todo esse histórico de desvio de verbas, o país é uma caixa de surpresas. A cada dia aparece um segmento envolvido em desvios. É uma coisa enlouquecedora, nunca vivemos um tempo assim. É realmente um tempo difícil. Por outro lado, temos que lembrar que outros segmentos são considerados por outras pessoas como mais importantes que uma Jornada. Isso sim é trise, pois formar leitores é do que o Brasil mais precisa.
A senhora é esperançosa em relação ao país?
Eu entendo a desgraça como um desafio. Cada vez que vejo uma desgraça como essa (o cancelamento da Jornada) acontecer, penso "Tânia, teu compromisso é continuar lutando". Um quadro como esse não pode ser maior que o desejo de aprimorar um grupo, um segmento da sociedade. Trabalhar com professores é algo que me desafia a cada dia. Continuo cada vez mais estimulado pela formação de leitores.
Quais serão seus próximos passos nesse caminho?
Meu trabalho como professora e pesquisadora continua na mesma direção, tentando contagiar os alunos da universidade. Continuo lutando para atingir meus objetivos. Esse é um projeto de vida, que não pode ser compreendido por quem só pensa o trabalho em relação a uma remuneração financeira.
A senhora pretende retornar à Jornada?
Enquanto estiver na universidade, jamais deixarei de trabalhar e ajudar quando for solicitada. Mas esta uma decisão (de ser solicitada) diz respeito à universidade.
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