Acordo e o noticiário está destacando Doom, Final Fantasy, Zelda, Tomb Raider e Star Fox. Acho estranho e confiro o calendário para saber se não estou preso em algum lugar entre os anos 1980 e 90. Mas é 2015, e esses jogos acabaram de ser anunciados na E3, o maior evento de games do mundo. O que está acontecendo (e o que vai acontecer) é o que vamos tentar descobrir nas próximas linhas.
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É público e notório que vivemos, há alguns bons anos, uma entressafra de criatividade na indústria cultural. Está sendo assim na música, no cinema, na literatura e não teria por que ser diferente nos videogames. Parece que tudo o que não é remake ou reboot é continuação ou derivação. Estaria sobrando preguiça e faltando generosidade para com o novo, o diferente, o esquisito, o ousado?
A julgar pelo que está sendo destaque na E3, sim. As conferências das principais desenvolvedoras ali presentes são museus de grandes novidades: Bethesda veio com o remake de Doom e o quarto capítulo de Fallout; Sony apostou em Uncharted 4 e no remake de Final Fantasy VII; Halo 5 e Forza Motorsport 6 ocuparam a maior parte do tempo da Microsoft; EA apresentou continuações para Need for Speed, Mass Effect e Plants vs. Zombies; e por aí vai.
Claro que muita coisa inédita foi mostrada, mas não com a mesma pirotecnia. Até porque eventos como a E3 são feitos para chamar a atenção para produtos com alta demanda, blockbusters que custam milhões e precisam faturar bilhões. Jogos que falam mais ao coração do que ao cérebro - este é ponto onde quero chegar.
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Apostar em franquias e/ou personagens manjados do grande público é apelar para o jogo ganho da memória afetiva. "Propaganda é a alma do negócio, no nosso peito bate um alvo muito fácil", vaticinou Humberto Gessinger lá em 1995 em A Promessa. Quando surgiram, há 20, 30 anos, os jogos citados no primeiro parágrafo foram divisores de águas, criando legiões de fãs.
Esses fãs hoje representam a maior parte do público consumidor de videogame, que é em quem o grosso dessa reciclagem de títulos mira - e ganha tanto destaque justamente porque o retorno é garantido. Logo, não há motivo algum para arriscar contar novas histórias ou investir em franquias inéditas. Não há motivo para correr riscos.
O problema é que sem risco não há avanço. Evoluímos nos erros, não nos acertos. Hoje, as únicas dispostas a arriscar são as pequenas e médias companhias, que obviamente não têm a mesma força e alcance dos grandes - nem uma conferência cheia de néon e máquina de fumaça na E3 que lhe renda uma cobertura legal da imprensa especializada...
Porém, é interessante pensar que correr riscos era algo inerente à indústria do videogame. Avançar por caminhos não percorridos foi justamente o que tornou Doom, Final Fantasy, Tomb Raider e Star Fox tão importantes e queridos - e não há problema algum em continuar a desenvolver boas ideias e bons personagens. Mas que jogo lançado hoje vai viver o bastante para valer uma reedição daqui 30 anos? Ou será que em 2045 estaremos acordando para ler sobre uma nova versão de Zelda? Aguardemos os próximos capítulos.
Jogatina Tech
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Gustavo Brigatti
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