A partir desta quinta-feira, o Cine Santander Cultural, em Porto Alegre, apresenta trilogia em que os diretores Bruno Safadi e Ricardo Pretti reverenciam dois mestres do cinema autoral brasileiro: Julio Bressane e Rogério Sganzerla. Rodados no Rio, os filmes são estrelados pelo mesmo trio de atores.
Evocando a parceria dos veteranos Sganzerla e Bressane na produtora Belair Filmes - onde realizaram seis longas entre entre fevereiro e maio de 1970 -, os jovens realizadores Safadi e Pretti decidiram replicar a experiência rodando três filmes em duas semanas, em janeiro de 2012. A personagem Sonia Silk, interpretada por Helena Ignez em Copacabana Mon Amour (1970), de Sganzerla, acabou batizando a iniciativa, que tem equipe técnica e elenco comuns.
O projeto Operação Sonia Silk recebeu o prêmio de finalização do fundo Hubert Bals, na Holanda, e é estrelado por Leandra Leal, Mariana Ximenes e Jiddu Pinheiro. Leia mais sobre os três filmes abaixo.
Falta espaço para os filmes nacionais
Os longas preferidos dos brasileiros
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O Uivo da Gaita, por Roger Lerina
Sessões diárias às 15h
Assistente de direção de quatro filmes de Julio Bressane, o realizador Bruno Safadi retorna ao mestre neste ensaio poético sobre o amor sensual. Em O Uivo da Gaita, a celebração dos sentidos extrapola o triângulo amoroso encenado pelo trio de atores: o porto do Rio de Janeiro, a famosa Casa das Canoas - projetada por Oscar Niemayer - e uma praia paradisíaca em Niterói ganham protagonismo, fundindo figura e cenário em nome do prazer estético. A bela fotografia solar de Ivo Lopes Araújo alia-se à trilha sonora e ao criativo desenho de som para emoldurar essa experiência sinestética que faz referência tanto a títulos de Bressane como Filme de Amor (2003) quanto ao clássico Limite (1931), de Mário Peixoto. Como os outros dois títulos do projeto, O Uivo da Gaita estreou no Festival Internacional de Cinema de Roterdã de 2013.
O Rio nos Pertence, por Roger Lerina
Sessões diárias às 17h
Realizador ligado à produtora cearense Alumbramento - na qual já dirigiu quatro filmes -, Ricardo Pretti mostra um Rio bem mais sombrio do que a Cidade Maravilhosa do colega Safadi em O Uivo da Gaita. Em seu longa, a jovem Marina (Leandra Leal) decide voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, depois de receber um enigmático cartão-postal. Após uma ausência de 10 anos, Marina não sabe exatamente por que voltou, buscando com a irmã (Mariana Ximenes) e o ex-companheiro (Jiddu Pinheiro) alguma resposta para os estranhos acontencimentos com os quais depara. Se a misteriosa mensagem que perturba a protagonista remete a fantasmas do passado como em Caché (2005), do diretor alemão-austríaco Michael Haneke, o registro de mal-estar e de permanente suspense da narrativa ecoa o já antológico O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho.
O Fim de uma Era, por Marcelo Perrone
Sessões diárias às 19h
A assinatura conjunta de Bruno Safadi e Ricardo Pretti, em O Fim de uma Era, resulta no mais problemático título da trilogia Operação Sonia Silk. Se nos longas que apresentam separadamente os diretores buscam emular a atmosfera de seus mestres inspiradores Bressane e Sganzerla, aqui o tributo resvala na afetação e na autorreferência. Este fragmentado ensaio em preto e branco agrupa imagens dos bastidores das filmagens dos outros dois longas do projeto, com narração de nomes como Helena Ignez, Maria Gladys e Fernando Eiras, todos parceiros dos homenageados. Fala-se de paixão e amores rompidos, dos conflitos íntimos do artista e da experiência coletiva que é o fazer cinematográfico. O talento, a ousadia e a provocação estética que Safadi e Pretti exibem em seus respectivos trabalhos na trilogia, aqui diluem-se numa estéril volta ao redor de seus umbigos.