O Nobel é um fetiche poderoso. Qual outro prêmio literário oferece US$ 1 milhão, aproximadamente, a um escritor, e o torna, de algum modo, eterno, ao menos nas listas oficiais, do mundo inteiro?
Fetiche maior para os brasileiros porque nunca tivemos nenhum dos nossos entre os vencedores. Mal e mal um português chegou lá, e isso faz bem pouco, com José Saramago. Drummond, João Cabral, Jorge Amado, Erico Verissimo, Guimarães Rosa, por exemplo, poderiam ter sido agraciados com a láurea, mas não rolou.
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Mesmo um gigante como o argentino Jorge Luis Borges, talvez o único caso de latino-americano que influenciou em vida escritores da França, não chegou lá - e diziam que o bloqueio se deu por suas posições extremamente reacionárias, como quando aceitou um prêmio do Chile de Pinochet, ocasião em que apertou a mão do general assassino com grande gosto, porque o apoiava.
Matéria desses dias, no Le Monde, abriu interessante segredo dos bastidores. É que no mundo do Nobel são guardados por 50 anos os relatos e as atas das deliberações, e justamente agora viemos a saber do que rolou na polêmica atribuição do Nobel a Jean-Paul Sartre. Ele foi nomeado em 1964 - e recusou tudo, o prêmio e a grana. (Nelson Rodrigues comentava essa negação e pensava no que aconteceria se algum brasileiro ganhasse o Nobel. Antevisão do genial cronista: qualquer brasileiro, ao receber um telegrama do rei da Suécia com a notícia, ia a nado buscar a taça e o tutu.)
Naquele 1964, havia 66 candidatos, com seis finalistas: Sartre mesmo, Junichiro Tanizaki, Mikhail Sholokhov, e mais, "apenas", W. H. Auden, Eugène Ionesco (mas ele era, segundo a ata do debate do júri, muito "unilateral em sua orientação artística", seja lá o que isso signifique) e, não menos, Samuel Beckett (mas infelizmente "sua natureza negativista desesperada vai de encontro à essência do prêmio", disseram os bambas do momento).
Pelo sim, pelo não, fica a dica.
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Luís Augusto Fischer: "O Nobel é um fetiche poderoso"
O colunista escreve quinzenalmente no Segundo Caderno
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