Uma das personalidades mais fascinantes do século 20, Alan Turing ganhou uma representação à altura na cinebiografia O Jogo da Imitação, que entra em cartaz nesta quinta-feira após duas semanas de sessões diárias de pré-estreia. Encarnado pelo londrino Benedict Cumberbatch (o Sherlock da série britânica homônima), Turing surge no filme de Morten Tyldum em uma atuação cheia de nuances, ao mesmo tempo contida e intensa, que expressa inclusive fisicamente o tormento do gênio que foi decisivo nos rumos da II Guerra Mundial e no desenvolvimento da ciência da computação, mas que acabou perseguido por sua homossexualidade - e se suicidou, aos 41 anos, comendo uma maçã envenenada.
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A fase final de sua vida é a que menos aparece no roteiro de Graham Moore (adaptado do livro de Andrew Hodges). Na década de 1950, Turing foi submetido a um tratamento médico que visava a recolocá-lo no prumo da "normalidade". Trabalhava em silêncio, em casa, numa geringonça que criara anos antes para decifrar o sistema codificado Enigma, que os nazistas usavam para se comunicar via rádio - o que se revelou fundamental para derrotar Hitler. Era, a tal geringonça, um protótipo do que seriam os computadores modernos.
Moore e o diretor Tyldum, que é norueguês e se destacou com o ótimo Headhunters (2011), estão mais interessados na operação militar dos aliados, que bancaram a pesquisa de Turing apesar de sua inabilidade política e de relacionamento. Cientista interessado em matemática, lógica e palavras cruzadas, ele era um Sheldon Cooper (de Big Bang Theory) de seu tempo, inclusive pela compleição física esguia. Com habilidade, os autores usaram sua relação com uma colega à época da II Guerra (Keira Knightley) para escancarar como ele próprio lidava com sua condição homossexual - com dificuldades para demonstrá-la, mais do que aceitá-la. Tivessem focado em seus casos fugazes dos anos seguintes, teriam feito um filme mais quente e menos calculista - o que não é necessariamente um problema, dada a riqueza das informações dispostas em O Jogo da Imitação, além de seu rigor cênico.
O que é careta é a narrativa estruturada em longos flashbacks. Você certamente já viu esse tipo de longa antes, ainda mais em tempo de Oscar. É uma pena, em se tratando de uma trajetória tão singular.
O Jogo da Imitação
De Morten Tyldum
Drama, Grã-Bretanha/EUA, 2014, 114 minutos, 12 anos.
Cotação: regular/bom.
Mais Turing
O matemático e criptoanalista Alan Turing (1912 - 1954) teve sua história longamente examinada por pesquisadores e reconhecida com prêmios e condecorações - todas póstumas, inclusive da realeza britânica. Foi eleito pela BBC um dos cem maiores ingleses de todos os tempos e, pela Time, uma das cem pessoas mais importantes do século 20. Confira outros filmes sobre ele:
Breaking the Code (1996) - Telefilme britânico que Herbert Wise dirigiu a partir da peça de Hugh Whitemore. Quem interpreta Turing é Derek Jacobi.
Decoding Alan Turing (2009) - Documentário de curta-metragem assinado por Christopher Racster que põe em dúvida seu suicídio - teria Turing sido assassinado?
The Turing Enigma (2011) - Neste thriller britânico de Pete Wild, o ator Sam Edge encarna Alan Turing.
Codebreaker (2011) - Clare Beavan e Nic Stacey dirigem este telefilme que mistura documentário e ficção para contar a vida do personagem.