Você compra um livro pelo número de páginas? Um disco pela quantidade de músicas? Escolhe um filme pela duração? E um jogo de videogame precisa ser longo o suficiente para valer o investimento? Se a resposta for sim a qualquer uma dessas perguntas, desculpe, mas você está fazendo isso errado.
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Relacionar o prazer que um bem cultural pode proporcionar com o tempo que você despende com ele é uma grande inversão de valores. Quem acabou de descobrir isso foi a produtora Ready at Dawn, responsável pelo jogo The Order: 1886, que basicamente está sendo acusado de ser curto demais e, por isto, não valer seu preço.
Veja bem, The Order sequer foi lançado - a previsão é para amanhã. Mas um vídeo da campanha principal vazou no YouTube (e que já foi retirada do ar) mostrando que o jogo poderia ser finalizado entre cinco e seis horas. Foi o suficiente para que a desenvolvedora fosse questionada: como ela pode cobrar quase R$ 200 por um jogo que não vai consumir a minha vida durante semanas?
Ru Weerasuriya, CEO e diretor criativo da Ready at Dawn, em longa entrevista ao site Eurogamer, defendeu a cria da melhor maneira possível:
- Cada jogo deve levar o tempo que for preciso para contar a sua história.
Por essa fala, é possível acreditar que a preocupação da desenvolvedora é oferecer não apenas diversão aos jogadores, mas um enredo bem amarrado e imersivo. O problema é que a nutrição básica do jogador médio são blockbusters modernos de ação e tiroteio, que focam em modos alternativos (como multiplayer e afins) em detrimento do desenvolvimento de uma boa história.
Na cabeça desse sujeito, portanto, quantidade é qualidade. Ele mede o prazer dele pelo tempo que pode gastar com o que comprou - logo, um bom jogo é um jogo longo, mesmo que repetitivo e de conteúdo mediano.
Eu não sei vocês, mas para mim, assim como os bons filmes, discos e livros que consumo, os bons jogos nada têm a ver com o tempo que dedicamos a terminá-los. Bons jogos são aqueles que continuam com a gente mesmo depois de desligar o console. Eles se tornam parte do que somos, no acompanham por um longo tempo. E para isso é preciso profundidade, inteligência e criatividade. Pode não ser o caso de The Order, mas a discussão está aí.
NOTAS
Moroder no novo "Tron"
Ressuscitado pelo Daft Punk no álbum Random Access Memories, o produtor musical Giorgio Moroder está com tudo. Depois de anunciar o lançamento de um novo trabalho - o primeiro em 30 anos! -, o italiano acaba de se comprometer com outro projeto. Desta vez, o responsável pela trilha do clássico Scarface se unirá ao DJ Skrillex para escrever as músicas de um game baseado na franquia Tron. O que vai sair daí é um mistério, mas pior do que os jogos anteriores baseados nos filmes não pode ser...
Pau de selfie para... Doom
Eu não sei o que me espanta mais nessa história: se é adicionar um modo de selfie em Doom ou alguém ainda jogar Doom. Tudo bem, é um clássico, e o mundo está repleto de saudosistas, mas... sério? De qualquer forma, para quem quiser se fotografar enquanto racha demônios espaciais ao meio, está aí a oportunidade. Além de, de quebra, finalmente ver o protagonista do jogo - mesmo que seja fazendo gracinhas. O modificador pode ser baixado no site doomworld.com e permite aplicar filtro e publicar as imagens no Instagram.
Jogatina Tech
Gustavo Brigatti: "The Order: 1886" e a velha discussão sobre tamanho
Jogo, que será lançado nesta sexta-feira, já é criticado por ser curto demais. Mas é de quantidade que precisamos?
Gustavo Brigatti
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