As manhãs brumosas revelam surpresas. Ou um sol resplendente ou uma chuva miúda de saudar o pasto.
Os homens também nos pregam surpresas. E não são poucas.
Pois em uma manhã destas vejo que alguém se achega, devagar e sempre pela trilha que conduz ao rancho.
Dom Luís alça as orelhas e o Mancha olha o visitante como quem não olha para nada.
Mal ele apeia e prende o cavalo na cerca e eu recordo. Com esta voz, cujo esganiçamento ninguém há de curar, murmuro: Nos arames em que foi peão pendurado, deixei os olhos fixados...
Ele se achega e eu o abraço com carinho.
_ Um café?
_ Um mate.
Vamos até a biblioteca, lugar preferido.
_ Que te trazes?
_ A saudade de um lugar feito este. Simples e amistoso. Um bom mate. Um dedo de prosa. Um pouco de silêncio que o mundo está meio no exagero.
Por um tempo fomos conterrâneos. Depois mudaram meu local de nascimento, mas ficamos muito perto. Embora distantes pela idade.
"Por natureza, por essência, por definição o artista é um cidadão incomum e iluminante. O artista é, na prática, difícil de reunir, impossível de redomonear, instável de conviver. Enxerga os absurdos antes dos demais, sente as transformações sociais primeiro, e isso o coloca em estado de alarme e angústia."
Interrompo a leitura e o encaro.
_ O problema de se definir é que não há mais volta.
Apanho o Rascunho:
"Por isso, nessa ousada travessia poética de Luiz Sergio Metz, a voz de Eliot ressoa pelo pampa a perder de vista e também dentro de suas taperas silenciosas, porque no sul, no sertão ou em qualquer parte do mundo viver é sempre "uma preparação para a saudade."
_ O melhor de uma obra é o olhar alheio.
_ E o jacaré, Sergio?
_ O território da infância é vasto e sem fronteiras. O jacaré faz parte dele. E sabe-se lá se este jacaré, de uma ou de outra forma, não se encontra na minha escrita.
A cuia pende em sua mão. Seu olhar se perde em um ponto imaginário. Adivinho neste olhar o que percebo nos olhares de todos os que não tiveram o tempo suficiente para completar suas obras. Desencanto.