Independente do filme assistido – seja Divertida Mente 2 ou Ainda Estou Aqui –, há uma certeza: mais gaúchos foram ao cinema no ano passado, em comparação com 2023. No último ano, 5,3 milhões de pessoas foram ao cinema no Rio Grande do Sul, de acordo com o painel Indicadores do Mercado de Exibição, da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Apesar da enchente ter atingido o Estado no primeiro semestre de 2024, o resultado é a melhor marca desde 2019, quando 7,7 milhões de espectadores ocuparam os cinemas gaúchos – especialmente por conta de filmes como Vingadores: Ultimato, O Rei Leão (reboot), Coringa e Toy Story 4.
Porém, com a pandemia, os cinemas interromperam as atividades. Até 2022, as salas de exibição abriram e fecharam conforme o avanço da covid-19. Muitos exibidores não sobreviveram ao período. Desde então, o setor passa por um momento de reconstrução.
Em 2023, 5,1 milhões de pessoas compareceram às salas gaúchas – número que aumentou aproximadamente em 4% no ano passado. Ainda, conforme informações da Ancine, a renda anual do setor no Rio Grande do Sul chegou a R$ 97,9 milhões em 2024.
No Brasil como um todo, a evolução de público foi um pouco mais substancial: de 114 milhões, em 2023, para 125 milhões no último ano – quase 10% de crescimento. É a melhor marca no país desde 2019, quando 173 milhões de pessoas compareceram às salas brasileiras.
Afirmação pós-pandemia
Para Hormar Castello, sócio-diretor do GNC Cinemas e presidente do Sindicato dos Exibidores Cinematográficos do Rio Grande do Sul, 2024 foi mais um ano de afirmação pós-pandemia para o setor.
— Se falava tanto em streaming, mas, na verdade, as pessoas querem sair. Estamos conseguindo tirar gente do sofá — diz Castello.
Em relação à enchente no Estado, Castello pondera que não houve impacto significativo no setor. Porém, o GNC Cinemas do Praia de Belas chegou a ficar sem atividades no período, já que o shopping permaneceu fechado na maior parte do mês de maio.
Também houve casos de cinemas como o CineBancários, que não foi atingido pela inundação, mas ficou sem água e luz por semanas, além de funcionários que foram afetados de alguma maneira pela enchente.
Castello aponta que um dos principais fatores para esse ano de afirmação do setor foi Divertida Mente 2. A animação, que estreou em junho, foi o filme mais visto nos cinemas do Brasil em 2024 (com 22 milhões de espectadores) e do Rio Grande do Sul — a animação foi o único longa a passar de um milhão de público no Estado. (confira os 10 filmes mais vistos na tabela abaixo)
Cristiane Brandolt, sócia-proprietária da empresa Cult Cinemas — com salas em Alegrete, Santiago e Ijuí — ressalta que o faturamento é a soma de dezenas de filmes, mas é sempre um ou dois filmes que acabam realmente fazendo a diferença. Nesse caso, Divertida Mente 2 fez a diferença.
— É um filme que tem uma combinação de sucesso, de faro muito bom e engraçado. Também coloca públicos de todas as idades, e tem uma mensagem importante de fundo, além de personagens cativantes — avalia Cristiane.
Marcelo Bertini, presidente da Cinemark Brasil, observa que, mesmo não havendo o mesmo público de 2019, a empresa fechou o ano passado com ótimos resultados, principalmente por conta da consistente oferta de filmes e da diversidade do cinema brasileiro.
— Tivemos três grandes sucessos no primeiro trimestre: Minha Irmã e Eu, Nosso Lar 2 e Os Farofeiros 2. Terminamos 2024 com mais dois, Ainda Estou Aqui e O Auto da Compadecida 2. O resultado já se espelha em 2025 com a notícia de que o ano anterior bateu recorde de número de salas ativas desde 2014 (3.509 funcionam hoje no Brasil) — conta Bertini.
Perspectiva para 2025
Sobre o ano que ainda está começando, Castello não garante que o resultado de 2024 possa se repetir, especialmente por conta do fenômeno que foi a animação da Pixar:
— Para compensar esses 22 milhões de Divertida Mente 2, teríamos que ter quase três filmes de 8 milhões, só para se ter ideia do quão impressionante que foi. É complicado chegar nisso.
Cristiane é mais otimista. Ela crê que potenciais blockbusters como Lilo & Stitch (previsto para maio), Superman (julho) e Avatar: Fogo e Cinzas (dezembro) possam atingir marcas expressivas nas bilheterias. Para a empresária, os próximos três anos são promissores.
— Possivelmente haverá uma ascensão nas bilheterias, com novos filmes dos Vingadores e do Homem-Aranha. Acredito que haja potencial para superar 2019, recuperando de vez os prejuízos da pandemia. Mas vamos aproveitar agora, pois o mercado é instável, daqui 4 ou 5 anos pode voltar a ficar imprevisível — analisa.