
Vanessa Longoni precisou de tempo para encontrar a própria voz. Cinco anos, para ser exato. Foi o intervalo entre o disco de estreia da cantora gaúcha, A Mulher de Oslo (2008), e o novo Canção para Voar, lançado no Rio em novembro de 2013, com show previsto apenas para abril em Porto Alegre - antes, uma versão pocket do espetáculo está marcada para o dia 13 de fevereiro no Café Fon Fon, na Capital.
A carreira solo de Vanessa é bissexta e elogiada. O show A Mulher de Oslo, estreado em 2006, com faixas do cancioneiro popular de diversas partes do mundo, levou o Prêmio Açorianos de Música de melhor espetáculo. O álbum, lançado dois anos depois, venceu em quatro categorias: melhor disco, intérprete e instrumentista (Angelo Primon) de MPB e melhor produtor musical (Arthur de Faria). O crítico Juarez Fonseca, hoje colunista do caderno Cultura de Zero Hora, atestou que "talvez seja o melhor disco de cantora já feito no RS".
Muitas coisas se passaram desde então. Vanessa participou de outros projetos, gravou discos em conjunto - Realidade Paralela (2009), com o grupo homônimo, e Queremos uma Ciclovia/Queremos un Carril Bici (2011), projeto infantil em português e em espanhol com Ana Prada e Queyi - e se mudou de Porto Alegre para o Rio.
- Na realidade, é meio complicado - afirma Vanessa, por telefone, antes de uma explicação que se revela simples. - O intérpete se coloca em vários papéis. Em A Mulher de Oslo, isso ficou muito claro. Era eu contando diferentes histórias. Já o Canção para Voar é quase biográfico. A voz é uma só, sou eu mesma falando.
E por que o hiato de cinco anos?
- Na questão solo, preciso de tempo para respirar, para saber o que quero fazer. Como sou uma cantora independente, posso me dar esse tempo. E vou me dar, sempre que achar necessário.
Nesse esquema independente, Canção para Voar conta com apenas um ponto de venda em Porto Alegre até agora, a livraria Palavraria. Quem não mora na Capital pode encomendar pelo e-mail da cantora (vanessalongoni@yahoo.com.br). Também é possível comprar as faixas no iTunes ou ouvir de graça no YouTube (abaixo).
O primeiro ano no Rio, onde mora desde 2010, foi de um mergulho na vida musical da cidade. Vanessa assistiu a inúmeros shows e travou contato com artistas. De certa forma, já estava em gestação o novo disco, que conta com compositores que despontaram nos últimos tempos. Entre os nomes mais conhecidos, estão Marcelo Delacroix e Rubem Penz (autores de Folia do Divino), Lula Queiroga (Sobreviventes) e Antonio Villeroy (Fast Folhinha e Fast Vinheta), que produziu o disco com o irmão Gastão Villeroy. Gravado no Rio, o trabalho conta com participações especiais de Danilo Caymmi (Folia do Divino) e Serginho Moah (Fast Folhinha).
Diferente do intenso álbum de estreia, Canção para Voar é, sobretudo, delicado.
- É muito mais leve, é o Rio de Janeiro. O Rio é corpo, é sol - compara.
Isso quer dizer que A Mulher de Oslo era denso como Porto Alegre?
- Não, essa relação não dá para fazer. Aquele disco carregava muitas coisas. A densidade veio de mim, do meu tempo, de tudo o que ainda não tinha cantado para os outros. Afinal, foi meu primeiro CD.
Aos 40 anos, Vanessa revela que ainda tem aulas de canto. É como ginástica, segundo ela ("Se parar de fazer, vai cair tudo, meu!"). Estuda desde os 15 anos, mas aos seis já cantava em serenatas com a família, que é de músicos. Sua formação incluiu treinamento em canto lírico, mas diz que não gosta de se sentir "enjaulada". Considera-se uma mistura entre o erudito e o popular e acredita que seu jeito de cantar é "novo" no Rio. A recepção ao novo trabalho, garante ela, tem sido "excelente".
- Tem uma coisa que é essencial tua. Sou gaúcha, não virei carioca (risos). Estou em uma cidade nova à procura de mais coisas, de um mercado de trabalho. O Brasil é muito grande, somos uma mistura de tantas coisas. Mas sem deixar de lado a origem, saca?