Ainda em setembro, tive a oportunidade de receber por aqui um grande artista argentino: Chango Spasiuk. "Gaiteiro dos Buenos", andava pelos pampas colhendo material para um programa de televisão que apresenta chamado Pequeno Universo.
A ideia é buscar, como o próprio nome indica, detalhes culturais de diferentes lugares e, com isso, instigar a curiosidade do telespectador a respeito do assunto. Depois desse panorama de peculiaridades, cada um por si pode buscar mais informações e se aprofundar. Achei a ideia bem interessante!
Além de talentoso, de ser referência para muitos acordeonistas - tem uma linguagem universal para o regional que encanta -, é um artista inteligente. Confesso que me supreendeu pela visão completa que tem da cultura gaúcha. Meu bate-papo com ele foi na Estância da Harmonia, num galpão bem rústico. Assim como a mim, ouviu Renato Borghetti (amigo de longa data) e Luiz Marenco e visitou cidades da região.
Spasiuk conhece a música do sul mais do que muita gente, mais do que público e artistas que buscam suas referências. De Pedro Raimundo, Teixeirinha, José Mendes, Os Haraganos, Os Tapes, Berenice Azambuja, até chegar nos dias de hoje. Apesar de o programa buscar o particular, Chango tem uma visão bem ampla do nosso estilo, dos nossos ritmos e compreende muito bem tantas similaridades que temos com seu país, apesar da diferença de idioma.
Fiquei feliz! Muitos de nós que cantamos o regional aqui no Rio Grande temos os argentinos como referência, e a maior parte dos hermanos ainda se surpreende ao ouvir um chamamé ou uma milonga tocada e cantada por brasileiros e não entende o uso da bombacha e da faixa pampa em nossa indumentaria. Para muita gente, o Brasil é do samba e do futebol e apenas isso. Apesar de estarmos próximos territorialmente, continuamos buscando a aproximação cultural efetiva. Seus traços já nos foram deixados por índios, espanhóis, portugueses e outros europeus que desbravaram o sul quando nenhuma linha demarcatória separava paisagens iguais.
Chango mostrou que a integração pode ser uma via de mão dupla. Que bom saber que um hermano entende nossa história e nos acerca!