
Lugares esquecidos, ruínas urbanas e utopias fracassadas seduzem o olhar de Romy Pocztaruk. Percorrendo geografias distantes para explorar locais abandonados ou de difícil acesso, ela mistura história e ficção em trabalhos de vídeo e fotografia.
Convidada da 9ª Bienal do Mercosul, que será aberta na sexta, Romy encerra a série sobre os 10 gaúchos que participam do evento. Nascida em 1983 e formada em Artes Visuais na UFRGS, onde também fez mestrado, ela já participou de exposições no Brasil e em cidades como Paris, Buenos Aires, Berlim e Amsterdã.
Romy vive em Porto Alegre, mas, pela natureza nômade de seu trabalho, passa boa parte do tempo viajando. Em 2010, realizou residência artística em Berlim. No ano seguinte, contemplada pela Bolsa Iberê Camargo, fez temporada em Nova York. E, no ano passado, foi à China. Nessas incursões a territórios desconhecidos, desenvolve obras a partir da relação que estabelece com os lugares e seus resquícios do passado:
- Vejo as histórias que crio e as imagens que faço como interpretação ficcional da história recente.
Ao pesquisar lugares distantes, Romy viaja com a ideia de realizar uma investigação. Mais do que o deslocamento e a viagem, ela procura acessar territórios para explorá-los. Em seu atual projeto, Olympia, a artista percorre cidades que já hospedaram jogos olímpicos, buscando o que sobrou nesses lugares. Romy foi a Sarajevo e Berlim e visitará outros destinos nos próximos anos.
- Em Sarajevo, a Olimpíada de Inverno de 1984 ocorreu antes da Guerra da Bósnia. Há pistas de esqui e cenários abandonados. Já em Berlim, há a Vila Olímpica de 1936, da Olimpíada do Hitler. É um lugar que acumula camadas de história - conta. - Me interessa levantar esse assunto em função da Olimpíada no Brasil e também para pensar o que as cidades e os jogos significam para a construção do imaginário, para as mudanças sociais.
O passado recente do Brasil também interessa à artista. No projeto A Última Aventura, ela percorreu a estrada Transamazônica. Em Rurópolis (PA), encontrou um hotel construído para a inauguração da rodovia, em 1972, e fotografou seu interior, com móveis e até piscina. No caminho, chegou à localidade de Fordlândia, uma cidade criada por Henry Ford, fundador da Ford, em pleno ciclo de extração de borracha na selva amazônica. Diante de vestígios que reproduzem um estilo de vida americano, realizou a série Última Utopia:
- São lugares estranhos que me seduzem e têm a ver com a ideia de utopias fracassadas. Percorri a estrada procurando o imaginário do sonho daquele Brasil. E encontrei vestígios da propaganda política do governo militar.
Esse capítulo da história do país também está presente no projeto que Romy desenvolve para a Bienal. Em novembro, ela fará uma expedição à Ilha do Presídio, no Guaíba. A primeira parte do do trabalho é o vídeo Para Frente Brasil, disponível no site da Bienal (confira abaixo). Ao som da narração de jogos do Brasil na Copa de 1970, ela come, a cada gol, uma das bananas do cacho sobre o qual está desenhado o território do país.
- Com um pouco de ironia, esse trabalho faz parte da pesquisa sobre a ditadura e os dias de hoje, o país do futuro daquela época e o Brasil que se projeta atualmente. A comparação desses dois momentos históricos é bem forte para mim - diz.
No sábado, a Galeria Gestual inaugura exposição coletiva com obras de Romy. E, em 3 de outubro, a artista abre individual no Instituto Goethe.
A série
> Fernando Duval (1937, Pelotas)
> Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> Leonardo Remor (1987, Getúlio Vargas)
> Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Letícia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha)
> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)