
Letícia Ramos constrói câmeras para captar pontos de vista múltiplos e simultâneos. São traquitanas, como ela mesma diz, que registram paisagens e cenários em movimento, gerando ficções de um futuro nostálgico.
Nona artista da série sobre os gaúchos da 9ª Bienal do Mercosul, Letícia mantém um estúdio em São Paulo onde projeta seus equipamentos fotográficos. Ao usar filme e recursos analógicos, explora os modos de ver dessas máquinas. No projeto Estação Radiobase Fotográfica (ERBF), a artista usa uma câmera de 24 aberturas para fazer filmes com tomadas panorâmicas de São Paulo. Em Cronópios, registra cenas da cidade com três câmeras Lomo de oito lentes cada.
- No processo de inventar um artefato fotográfico, a câmera vira a própria criadora da ficção - diz.
Foi o que Letícia fez para a Bienal. Convidada do projeto Island Sessions, ela chegou à Ilha das Pedras Brancas, no Guaíba, imaginando o que haveria embaixo d'água. O trabalho, que envolve fotos, vídeo e caderno de viagem, está no site da Bienal, evento que começa em 13 de setembro.
- Criei uma câmera para fazer imagens que mostram o horizonte entre a água e a terra - conta Letícia.
Nascida em 1976, em Santo Antônio da Patrulha, a artista circulou o país pelo Programa Rumos Itaú Cultural e já participou de mostras na Inglaterra, no México e no Canadá.
Criar ficções científicas baseadas em geografias remotas tem sido o principal interesse de Letícia. Em 2011, ela passou um mês no Polo Norte a bordo de um veleiro. Com uma câmera de 18 lentes que inventou usando o sistema Polaroid, registrou imagens cujas cores e tons são influenciados pela força dos ventos. Financiado pelo Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia e pelo Instituto Itaú Cultural, o projeto Bitacora pode ser conferido no blog.
No retorno dessa viagem, Letícia se voltou a outro extremo do planeta, a Antártica. Ao ler sobre cientistas que haviam alcançado um lago submerso a quatro quilômetros da camada de gelo, resolveu criar uma ficção científica inspirada nesse sistema aquático intocado há 30 milhões de anos. Para encenar uma viagem inspirada nas antigas expedições de exploração, montou um set de filmagem com piscina, aquário, maquetes e miniatura de submarino.
Esse processo criativo parte da formação da artista, que passou pelo curso de Arquitetura da UFRGS e se formou em Cinema na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). O resultado é o projeto Vostok, que está em finalização e envolve filme, livro e disco:
- Meus trabalhos são espécies de sagas, que duram mais de ano e viram uma série de coisas.
Boa parte das câmeras criadas por Letícia estará em Invenção da Roda, exposição que será aberta dia 10, no Museu do Trabalho. Em novembro, a artista participa do 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc-Videobrasil e, no ano que vem, estará envolvida com a Bolsa de Fotografia do Instituto Moreira Salles.
A série
> Fernando Duval (1937, Pelotas)
> Danilo Christidis (1983, Porto Alegre)
> Fernanda Gassen (1982, São João do Polêsine)
> Leonardo Remor (1987, Getúlio Vargas)
> Tiago Rivaldo (1976, Porto Alegre)
> Katia Prates (1964, Porto Alegre)
> Michel Zózimo (1977, Santa Maria)
> Luiz Roque (1979, Cachoeira do Sul)
> Letícia Ramos (1976, Santo Antônio da Patrulha)
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> Romy Pocztaruk (1983, Porto Alegre)