O debate de ideias acerca de causas socio-humanitárias globais foi o grande mote que perpassou as quatro primeiras conferências do Fronteiras do Pensamento de 2013. A religião, a crise ambiental, a indignação fomentada pelas redes sociais e o cérebro humano foram os panos de fundo para uma grande discussão sobre as mudanças que passa o mundo contemporâneo.
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No segundo semestre do Fronteiras, que inicia em 12 de agosto com Kwame Appiah, a identidade, o racismo e o cosmopolitismo serão os temas abordados, sempre sob o viés da experiência do autor. Nascido na Inglaterra, criado em Gana, radicado há 30 anos nos Estados Unidos, Appiah é cosmopolita desde sua árvore genealógica, e hoje leciona estudos africanos e afroamericanos na Universidade de Princeton. Para Appiah, a revolução moral das últimas três décadas revela um grande avanço para a humanidade. No entanto, o filósofo salienta:
- O cosmopolitismo diz que temos de aprender a nos responsabilizarmos diretamente pelo coletivo. Você não pode ser fiel somente a um pequeno grupo, e viver simplesmente sua moral. Mas você também não pode abandonar seu grupo local, porque isso o levaria muito longe de sua humanidade. Por isso nós precisamos de uma noção de cidadania global.
A discussão acerca da moralidade continua a ser o tema central na conferência seguinte do Fronteiras, que no dia 26 de agosto traz a Porto Alegre o filósofo australiano Peter Singer. Responsável pela cátedra de bioética na Universidade de Princeton há quase 15 anos, Singer é chegado a frases que normalmente chocam suas plateias e leitores, especialmente acerca de temas polêmicos como o aborto, a eutanásia, o infanticídio e o sofrimento animal. Utilitarista por formação, sua ética aplicada se prende às questões da preservação da vida em suas mais diversas dimensões.
- A ética tem de vir de nós mesmos, e isso significa que temos de nos perguntar como levamos em conta os interesses dos outros. Alguns podem pensar que, por não estarem prejudicando ninguém, podem simplesmente comprar uma roupa de mil dólares, mas, dadas as oportunidades que temos no mundo de hoje, assim deixaríamos de ajudar alguém. Temos a obrigação moral de ajudar, assim como temos a obrigação de não causar danos -, polemiza Singer.
Em 2003, quando a Libéria vivia a segunda guerra civil no período de uma década, uma mulher resolveu ajudar. Leymah Gbowee, Nobel da Paz em 2011 e conferencista do Fronteiras do Pensamento no dia 9 de setembro, chamou as mulheres a se vestirem de branco e orar, sem distinção de etnia ou religião. O movimento foi crescendo durante o conflito até culminar em uma greve de sexo, obrigando o regime de Charles Taylor a integrá-las às negociações de paz.
- Em tempos de guerra é difícil enxergar as flores, o sol e a esperança, mas você pode dizer a si mesmo que isso vai acabar. É preciso manter a esperança para dar esperança aos outros -, diz Leymah. A militância pacifista liderada por ela contribuiu para acabar com as guerras civis que devastaram a Libéria.
A luta pacífica pelos direitos humanos também ocupa a maior parte da biografia de outro premiado com o Nobel da Paz, que estará no palco do Fronteiras em 30 de setembro. O jurista timorense José Manuel Ramos-Horta, hoje representante especial da ONU para Guiné-Bissau, traz no histórico dois exílios políticos durante o regime salazarista em Portugal, ao qual fez duras críticas durante os 24 anos em que esteve fora do país, levando a situação do Timor-Leste à atenção do mundo. Também foi presidente do Timor entre 2007 e 2012 e sempre usou o Direito Internacional e os Estudos relativos à Paz como aliados na libertação de um território e de um povo marcado pelos anos de colonialismo.
Outro interessado em pautas como a exploração econômica colonial de Portugal e os movimentos de libertação de Angola e Guiné é o historiador Perry Anderson, que fala no Salão de Atos da UFRGS no dia 14 de outubro. Militante de grupos de esquerda desde os anos 50, quando iniciou sua formação política, o atual professor de História e Sociologia da Universidade da Califórnia ajudou a fundar, na década de 60, a revista esquerdista mais importante do mundo, a New Left Review. Marxista de formação, as acuradas análises de Anderson se tornaram leituras obrigatórias para a compreensão da política contemporânea, incluindo a brasileira.
Finalizando o ciclo de conferências em 4 de novembro, o neuroeconomista norte-americano Paul Zakousa coloca na conta de uma molécula a vasta discussão que ainda estará sendo travada no palco do Fronteiras. Zak abordará os dez anos de suas pesquisas sobre a oxitocina, hormônio produzido pelo ser humano que responderia por nossa generosidade e confiança - e também por nossas decisões econômicas. Descoberta em 1909, a molécula nunca havia sido associada a economia, mas o atual Diretor de Neuroeconomia da Universidade Claremont, na Califórnia, demonstrou que países com taxas mais altas de confiança entre as pessoas eram também mais prósperos. De certa forma, Paul Zak encerrará a edição 2013 do Fronteiras do Pensamento retomando o que a escritora Karen Armstrong abordou na primeira noite do ciclo de conferências: a "regra de ouro" da compaixão, que incentiva tratarmos os outros como gostaríamos de ser tratados, é para Zak uma "lição que o corpo já conhece", e pode ser uma das chaves para uma sociedade mais generosa e próspera.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado pela Braskem e tem o patrocínio de Unimed Porto Alegre, Weinmann Laboratório, Santander, CPFL Energia, Natura e Gerdau. Promoção Grupo RBS. O projeto conta com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul como universidade parceira e parceria cultural de Unisinos, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Segundo semestre
Conheça os próximos palestrantes do Fronteiras do Pensamento
Ciclo recomeça com Kwame Appiah, no dia 12 de agosto
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