A escolha de Afrontar Fronteiras, de Donaldo Schüler, como Livro do Ano no Açorianos de Literatura 2012 é um reconhecimento não apenas da obra publicada, mas de todo um entorno de iniciativas do escritor, tradutor, poeta e professor de levar um pouco mais longe os marcos fronteiriços da cultura no Estado.
O livro é uma coletânea de ensaios baseadas em conferências que Schüler proferiu no StudioClio discutindo temas e motes apresentados pelas palestras de convidados do Fronteiras do Pensamento - projeto em que o escritor também atua como curador cultural.
Editado pela Movimento, o livro Afrontar Fronteiras foi lançado em abril deste ano, reunindo conferências realizadas em 2011. A obra foi escolhida como vencedora na categoria Ensaio de Literatura e Humanidades, além de ser apontada como "O Livro do Ano" publicado no Estado.
- Fico satisfeito com este ato de reconhecimento da cidade, porque é condizente com a tradição de Porto Alegre de ser um polo de discussões. É um livro que discute ideias, e uma obra desse tipo pode se distanciar do cotidiano das pessoas. Mas o nosso objetivo ao escrever esse livro foi justamente colocar as grandes ideias dentro da situação concreta que vivemos, não promover discussões fora da realidade - diz Schüler.
Em cada um dos ensaios da obra, o autor recupera alguns dos temas centrais discutidos por convidados do Fronteiras do Pensamento e os relaciona com conceitos contemporâneos e elementos da história e da sociedade rio-grandense. Em um dos artigos, por exemplo, aproveitando a presença em Porto Alegre, em 2011, do médico Denis Mukwege, que relatou o cotidiano de violência brutal, sequestros, estupros, assassinatos e mutilações do Congo contemporâneo, Schüler relaciona tais atrocidades de origem tribal com os episódios de violência e Guerra Civil registrados no passado do Rio Grande do Sul e descritos por escritores do regionalismo local.
- A integração de culturas no Rio Grande do Sul foi fantástica. Nunca tivemos episódios de violência étnica, mas não podemos condenar a brutalidade da África sem lembrar também que houve em nosso passado guerras cruentas motivadas por política e ideologia. Não podemos fechar os olhos para esse confronto com a história - comenta Donaldo.
Como as palestras, realizadas no StudioClio, eram seguidas de debates com o público, muitos dos questionamentos surgidos nas conversas foram mais tarde incluídos na versão final de cada texto.
- Minha ideia sempre foi ampliar a discussão - afirma.