É impossível esconder de alguém que você esteve em Fuerzabruta. Você sairá de lá respingado - ou encharcado, dependendo da empolgação - e provavelmente confeitado de pequenos pedaços de papel. Embora contemple espectadores de diversas idades, a partir de 16 anos, é inegavelmente uma produção sob medida para jovens, em especial para os que não necessariamente costumam ir ao teatro mas sabem como aproveitar uma boa festa. É isso que Fuerzabruta, combinação de teatro, dança e performance, oferece.
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A grande sensação de apelo popular do 19º Porto Alegre Em Cena estreou nesta segunda-feira (17/9), no Pepsi On Stage, depois de dois adiamentos por causa de um atraso na liberação do material cenográfico na aduana de São Borja. Os 1,2 mil ingressos da estreia haviam esgotado rapidamente (desde a manhã de ontem, tampouco há bilhetes para as demais sessões, até sábado). E quem disse que afugentaram o público a segunda-feira chuvosa, o horário das 22h e a ideia de ficar em pé durante 65 minutos? Lá dentro, todos puderam se proteger das trovoadas, mas alguns terminaram molhados de qualquer jeito. No segmento final, quando o espetáculo parece virar uma festa, uma torneira é aberta no teto, banhando os que se aventuram a se aproximar.
- Não resistimos e fomos para a água - conta a psicóloga Danielle Ribeiro, 37 anos, ao lado da advogada Heloisa Medeiros, 35, e do publicitário Giba Miranda, 42, os três exemplarmente encharcados.
- A música bate forte no peito - empolga-se Miranda.
Heloisa pontua:
- Acho que o espetáculo poderia ser resumido como uma experiência sensorial.
O diretor artístico Diqui James costuma defini-lo como "uma grande celebração". Fuerzabruta é uma sequência de cenas que se passam em plataformas no meio do público. Ainda segundo James, cabe a cada espectador criar sua interpretação. A deste repórter é mais ou menos assim: trata de como a velocidade da vida urbana embota os espíritos, o que justifica romper as amarras para festejar. Mas será que o espetáculo propõe uma alternativa para a brutalidade da rotina nas metrópoles ou apenas um paliativo para suportar a correria? Revolucionário ou comodista?
Um sujeito de terno anda sobre uma esteira. Começa a correr, leva um tiro, sangra, cai, levanta, desvia de outras pessoas, atravessa uma parede de caixas de papelão, leva outro tiro e finalmente deita em uma cama, não necessariamente nessa ordem. Em outra cena, um grupo de performers derruba as paredes de um ambiente claustrofóbico, transformando a plataforma sobre a qual estão em palco para uma coreografia. A música pulsa no volume alto de uma balada. Depois, o relaxamento: uma piscina de fundo transparente desce do teto até ficar ao alcance das mãos do público, que observa quatro mulheres brincando de deslizar e de pular sobre a água.
Não há como negar que Fuerzabruta dá subsídios para a diversão. O bar vende cerveja, e ninguém pede para que os celulares sejam desligados. Muitos fotografam (é proibido usar flash) para postar na internet.
- A festa poderia ser estendida noite adentro - diz a empresária Kelly de Oliveira, 30, que afirma ter se sentido atraída pela proposta "diferente" do espetáculo.
Também surpresa, a administradora Ana Lucia Demichei, 33, atesta:
- Nunca tinha visto nada igual.
Água e papel picado
Estreia de "Fuerzabruta" surpreende o público com efeitos visuais
Produção argentina em cartaz no 19º Porto Alegre Em Cena combina teatro, dança e performance
Fábio Prikladnicki
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