O desencontro entre dois vizinhos portenhos que pareciam ter nascido um para o outro resultou em Medianeras (2011), boa novidade argentina no circuito brasileiro do ano passado. A presença hermana nos cinemas do país este ano surge com A Velha dos Fundos (2010), um filme construído a partir do encontro entre um estudante e uma viúva que, como no outro longa, moram de frente um para o outro, com apenas um corredor entre eles. Isso na mesma Buenos Aires cosmopolita e decadente, charmosa e tão cheia de personalidade.
A Velha dos Fundos estreia nesta sexta no Instituto NT e no Unibanco Arteplex. A exemplo de Medianeras, também iniciou carreira no Brasil no Festival de Gramado, cujo júri da edição 2010, numa daquelas decisões polêmicas típicas das premiações culturais, não consagrou o desempenho de Adriana Aizemberg - a "velha" do título. Atriz de teatro com quase 40 anos de carreira, mãe do protagonista de O Abraço Partido (2004), presente ainda na linha de frente dos elencos de Mundo Grua (1999) e As Leis de Família (2006), ela aqui brilha como uma senhora solitária em busca de companhia que salva o pobre interiorano interpretado por Martín Piroyanski.
É que, após um esbarrão no elevador, a mulher fica sabendo que o jovem vizinho está prestes a largar a faculdade de Medicina e voltar ao interior: ele não tem dinheiro para pagar o aluguel e arcar com as demais despesas na cidade grande. Surpreendentemente generosa - e ranzinza, e mal-humorada -, ela o convida a ficar na sua casa. Não diz isso com todas as letras, mas ao espectador vai ficando cada vez mais evidente que, no fundo, além de ajudá-lo, quer alguém para dividir a mesa do café da tarde.
La Vieja de Atras, título original, faz referência aos mesmos "fundos" do título em português. Mas também alude ao "passado" que a velha representa, algo que se perdeu na tradução para o lançamento no Brasil. É no que a convivência com uma figura tão tipicamente de outros tempos representa para o garoto - a rigor, no que o passado incide sobre o presente - que está o grande lance do filme. Na descoberta da senhora pelos olhos do menino.
Se parece que você já viu algo parecido, não desanime: em seu segundo longa (o primeiro foi Buenos Aires 100km, de 2004, também exibido por aqui), o diretor Pablo Meza foge de clichês narrativos apostando em elipses certeiras e potencializa o impacto da fruição a partir de um naturalismo radical tanto de imagem quanto de som - A Velha dos Fundos praticamente não tem música incidental, além de desnudar uma Buenos Aires completamente desprovida de qualquer filtragem fotográfica.
Detalhe: coprodução com o Brasil (a partir de parceria com a gaúcha Panda Filmes), o longa tem no elenco a presença do jovem ator Rafael Sieg, de filmes como A Última Estrada da Praia (2011) e da novela global Viver a Vida (2009/10).
Confira o trailer:
SERVIÇO
A Velha dos Fundos
(La Vieja de Atras)
De Pablo Meza. Com Adriana Aizemberg, Martín Piroyansky e Rafael Sieg.
Drama, Argentina, 2011. Duração: 115 minutos. Classificação: 10 anos.
Estreia nesta sexta no Instituto NT (11h e 19h15) e no Unibanco Arteplex 8 (18h40)