
Darci Pinheiro Teixeira sempre teve a música e os estudos como prioridades dentro de casa. Hoje, aos 25 anos, sua trajetória é um reflexo vivo da infância repleta de aprendizado e sonoridade.
Nascido no bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre, ele lembra com carinho de quando mergulhava no universo do samba, embalado pelas ondas do rádio. Cartola (1908-1980), Zeca Pagodinho, Martinho da Vila e outros grandes mestres foram seus primeiros professores, moldando sua paixão pela música.
Aos 10 anos, sua mãe tomou uma decisão importante: matriculá-lo, junto ao sobrinho, na Fundação Pão dos Pobres. O irmão mais velho já fazia parte do internato, e para Darci aquele novo mundo significou uma oportunidade:
— A gente ficava de segunda a sexta-feira, e passava os finais de semana em casa. Sentimos muito quando o internato fechou. Mas nos deram uma contrapartida: fomos encaminhados para o Sase (Serviço de Apoio Socioeducativo).
Quero levar isso para dentro das escolas. Porque é lá que as mudanças começam de verdade
DARCI PINHEIRO TEIXEIRA
Músico
Foi nesse período que Darci encontrou dois projetos que se tornariam sua segunda casa. Um deles foi a Associação Sol Maior, que acolhe crianças e adolescentes oferecendo oficinas gratuitas de música e dança. O outro, foi a Oficina de Choro, onde ingressou em 2015. Ali, aprendeu a tocar violão, cavaquinho e instrumentos de percussão. Desde então, nunca mais largou o projeto.
— A oficina é uma educação continuada. Todo sábado, meu compromisso é estar lá, trocar ideias, tocar meu instrumento, aprender e ensinar. Não me vejo longe disso — conta, com brilho nos olhos.
Darci recebeu a reportagem no Instituto Ling, no bairro Três Figueiras, onde hoje ocorrem as atividades da oficina. Caminhando pelos corredores, ele recorda de cada nota, de cada aprendizado, da emoção de ver crianças e jovens descobrindo a música da mesma maneira que ele descobriu um dia.

Salas de aula
Mas a jornada de Darci não para por aí. Ele está prestes a realizar outro grande sonho: tornar-se professor de música. Atualmente cursando o último semestre de licenciatura em Música pelo Centro Universitário Internacional (Uninter), ele se prepara para levar seu conhecimento às salas de aula, onde acredita que pode fazer a diferença.
A previsão de formatura é para junho deste ano. Depois, seu objetivo é ensinar a musicalidade brasileira às novas gerações, algo que já faz como monitor em projetos como o MPB nas Escolas, do Instituto Ling. A iniciativa gratuita e voltada para alunos da rede pública traz não apenas a prática de instrumentos, mas também conceitos de história e geografia do Brasil, a biografia de músicos e compositores ilustres da MPB e a riqueza da cultura nacional.
O tema de seu trabalho de conclusão de curso (TCC) é um reflexo da própria história e de sua luta: a importância da música para uma educação antirracista.
— Infelizmente, essas questões só são lembradas no Dia da Consciência Negra (em 20 de novembro). Mas a nossa cultura precisa ser valorizada o ano todo. No MPB nas Escolas, tentamos resgatar a raiz do nosso gênero musical todos os dias. Quero levar isso para dentro das escolas. Porque é lá que as mudanças começam de verdade — afirma, convicto do que ainda está por vir.

Oficina de Choro: ainda dá tempo de se inscrever
A Oficina de Choro está com vagas abertas para novos alunos que queiram participar de aulas gratuitas de composição coletiva e prática de instrumentos como violão, cavaquinho, pandeiro, flauta, trompete e clarinete, além do canto. Os interessados podem se inscrever sem custo até sexta-feira (7) clicando neste link.
Coordenado desde 2014 pelo violonista e compositor Mathias Pinto, o projeto oferece vagas limitadas e realiza um processo de seleção de acordo com o nível de conhecimento musical dos candidatos. Para participar, é necessário ter um instrumento adequado para a prática.
As aulas começam no sábado (8) e seguem até o dia 14 de dezembro. Em caso de dúvidas, entre em contato pelo e-mail oficinadechoroinstitutoling@gmail.com.