Maio de 2000. O mundo iniciava um novo milênio enquanto a música pop era dominada por boybands como Backstreet Boys e NSYNC. No meio desse cenário, uma adolescente loira do interior dos Estados Unidos vinha chamando atenção do mercado fonográfico após demonstrar inocência com uma canção chamada Baby One More Time, marcada por uma batida chiclete e muita coreografia.
Esta figura que aquecia as paradas musicais é Britney Spears. Naquela época, ela tinha acabado de completar 18 anos e vivia a pressão de lançar o seu segundo álbum à altura do primeiro. Foi então que o mundo se deslumbrou com Oops!...I Did It Again, no dia 16 de maio daquele ano, precedido por seu single homônimo, quase dois meses antes.
Nos primeiros sete dias após o lançamento, o álbum de 12 faixas vendeu 1,3 milhão de cópias nos Estados Unidos. De acordo com a Nielsen SoundScan, o número torna o compacto o segundo mais vendido na primeira semana por uma artista feminina (perdendo somente para o 25, de Adele). A música-título liderou as paradas de mais de 15 países da Europa e Ásia.
Oops!...I Did It Again é lembrado, até hoje, como um dos melhores discos dos nove já lançados por Britney, que não divulga nenhum álbum inédito desde Glory, de 2016. A própria cantora segue com o material em sua mente. No dia 27 de março deste ano, quando o lançamento do clipe homônimo completou 20 anos, a artista fez um post no Instagram recordando a produção. “Como que 20 anos se passaram tão rápido?! Eu não acredito. Eu lembro que aquela roupa vermelha era tão quente... mas a dança foi divertida e fez as filmagens voarem!”, escreveu na publicação, que recebeu mais de 1,2 milhão de curtidas.
O nome por trás
Alguns elementos explicam a importância de Oops!...I Did It Again para a música pop, mas o principal deles se refere a um nome: Max Martin. O produtor musical sueco, responsável por singles recentes de Taylor Swift e Ariana Grande, assina a produção do álbum de Britney e a composição de seis das 12 canções do material. Ele é considerado um dos maiores produtores da música pop da atualidade.
— O Max reafirmou essa noção de ponte, refrão e de reprogramar sussurros dentro da faixa. Não era algo novo, porque os Backstreet Boys já faziam isso, mas o disco tem essa importância de pensar vocais programados e remixados que foram eternizados no pop até hoje — explica Alan Mangabeira, doutor em comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador de cultura pop e criador do site BritneyOnline.
Além da parte técnica, Martin foi importante por direcionar a carreira da cantora, que tinha uma preocupação em segmentar a produção musical se voltando para a formação de ídolos teen, com uma música chiclete e performática. Seja em 2000, ligando a MTV para dançar em frente a uma televisão, ou em 2020, no meio de uma pista de dança lotada em uma casa noturna (quando elas ainda estavam abertas), basta tocar a faixa-título para a pessoa já querer se mexer. Ponto para Martin.
— Se toca em uma balada, você não tem o que fazer: ou você faz a coreografia ou tenta inventar algo para acompanhar batida, porque você não consegue ficar inerte à arquitetura sonora da música — reflete Mangabeira.
Singles e discurso
Além da canção homônima, Oops!...I Did It Again teve outros três singles: Lucky, Stronger e Don't Let Me Be The Last To Know, sendo que os dois primeiros repetem a fórmula da faixa principal, com batidas similares. Já Don't Let Me Be The Last To Know é uma vertente inesperada. Composta por Shania Taiwan, é um exercício de Britney em beber um pouco da música country, que faria sucesso posteriormente no mercado fonográfico com nomes como Taylor Swift e Lady Antebellum.
Em suas letras, Britney tenta demonstrar amadurecimento ao falar sobre o empoderamento da mulher — sem a intenção de ser, de fato, um disco feminista. Em Stronger, por exemplo, ela fala sobre a "solidão não incomodar mais tanto, por estar mais forte". Já em Where Are You Now, vemos uma jovem que está pronta para ser abandonada por seu amado.
— Quase todas as letras falam sobre superar relacionamentos e não precisar deles. Apesar de ser meio filosofia parecida com as frases da Ana Maria Braga com Louro José (risos), são composições interessantes para meninos e meninas pensar em gênero, algo até então pouco discutido — reforça Mangabeira.
Por isso, ao refletir tanto sobre o seu caminho no mundo, o disco é considerado um dos mais completos de Britney. Esta visão é a defendida pela fã Tiffany Bradshaw, drag queen que faz performances da diva em São Paulo, onde mora.
— O Oops!...I Did It Again mostra personalidade, não tem uma música que não consiga passar isso. Por ser o segundo disco, ela mostra que veio para ficar e que conseguiria fazer novos hits tão memoráveis quanto Baby One More Time — destaca Tiffany.
Identificação
Apesar de ser um disco de transição — entre a “virgem e inocente” de Baby One More Time e a sensual do disco Britney, de 2001 —, Oops!...I Did It Again cumpriu sua tarefa de alavancar a carreira da artista no cenário pop. E mais: ela surpreendeu a crítica especializada, que duvidava se ela iria conseguir lançar algo tão impactante como foi a sua estreia. Deu certo.
Tal cenário foi semelhante ao vivido pela cantora quando lançou Circus, em 2008, após ela enfrentar surtos e ter sido internada em uma clínica de dependência química.
— Os dois álbuns têm funções parecidas: tem os sussurros nas músicas, que seguem até hoje, as batidas fortes e o pop chiclete. Isso sem falar, é claro, nesse cenário de superar uma fase anterior de incerteza — compara Mangabeira.
Daquele início dos anos 2000, muitos fãs sentem falta das coreografias de Britney. Este elemento foi ficando de lado, já que a artista enfrentou duas cirurgias no joelho e, é claro, o tempo está passando. Hoje com 38 anos, Britney segue sendo motivo de alegria para Tiffany:
— Ela está parada, mas mesmo quando escuto, por mais que seja pela centésima vez, a música dela me arrepia, já quero dançar e coreografar. Não importa o tempo que passe. Eu coloco para ouvir e ainda sinto as mesmas sensações, ainda sinto esse fogo — finaliza a drag queen.