A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) projeta para este ano a mesma prioridade que tinha no início de 2019: concluir as obras do complexo de 2,5 mil metros quadrados da Casa da Ospa, localizada no Centro Administrativo Fernando Ferrari, onde o conjunto se apresenta há dois anos. Mas não significa que 2020 será um déjà-vu. Muito pelo contrário, será uma temporada festiva pelos 70 anos da Ospa, idade à qual chega com a autoestima abastecida por boas notícias recebidas nos últimos anos: a conquista da referida sala de concertos, o reforço de 27 novos músicos concursados e a instalação de sua Escola de Música no Palacinho, entre outras.
Muitas dessas melhorias eram pré-requisitos para o objetivo maior de qualquer orquestra: a constituição de um som distinto, uma identidade. Tarefa agora em pleno movimento, segundo o maestro Evandro Matté, que no ano passado foi reconduzido à direção artística da Ospa:
— Antes de termos a nossa casa, era quase impossível encontrar um equilíbrio sonoro. Ensaiávamos em um lugar e tocávamos em outro, e isso mudava tudo. Agora, os músicos começaram a se ouvir. Pessoas que frequentam nossos concertos e regentes convidados constataram essa evolução.
Ainda faltam cerca de R$ 4 milhões para concluir as obras da Casa da Ospa, que contará com memorial, café, salas de estudo para os músicos, sala de recitais e reformas no saguão e nos banheiros, além de aprimoramentos na acústica da sala de concertos. Boa parte dos recursos irão para o memorial, um museu sobre a história da orquestra que terá totens eletrônicos, projeções e documentação desde o primeiro concerto.
A Ospa já conta com cerca de R$ 1,5 milhão, que está sendo captado por meio das leis de incentivo à cultura estadual e federal. O desejo de Matté é entregar o complexo no dia 21 de novembro, em concerto com a Segunda Sinfonia de Mahler, conhecida emblematicamente como Ressureição. Mas tudo dependerá do ritmo da captação – o diretor artístico não descarta que a entrega fique para 2021.
Já a Segunda Sinfonia está confirmada nesta temporada, repleta de destaques – os ingressos começam a ser vendidos nesta sexta (21) no site uhuu.com. Um deles será a execução das nove sinfonias de Beethoven por ocasião de seus 250 anos de nascimento. Também serão lembrados os 180 de nascimento de Tchaikovsky, os 160 de Mahler e o centenário de morte de Alberto Nepomuceno. Seguindo o costume de encenar uma ópera por ano, a Ospa apresentará uma das mais conhecidas: A Flauta Mágica, de Mozart, com direção cênica de William Pereira. Estarão no elenco Giovanni Tristacci, Flávio Leite, Carlos Rodriguez e Elisa Lopes.
Para o concerto de abertura, no dia 7 de março, Matté esperava contar com o pianista Nelson Freire, mas ele quebrou o braço e será substituído por Alexandre Dossin, em programa que terá a Sinfonia Coral, de Beethoven. Em 23 de março, dia do aniversário de 70 anos, a Ospa vai reapresentar o mesmo programa do primeiro concerto de sua história, no mesmo palco onde tudo começou: o do Theatro São Pedro. Em 19 de setembro, será a vez de receber uma das maiores violinistas do mundo, a japonesa Midori, que já gravou com as filarmônicas de Berlim e de Israel. Ela interpretará com a orquestra a Serenata, de Leonard Bernstein, na Casa da Ospa.
Antes, no dia 12 de setembro, haverá a estreia de uma composição de Celso Loureiro Chaves, professor do Instituto de Artes da UFRGS e colunista de GaúchaZH, encomendada para celebrar seus 70 anos de vida. Estética do Frio IV será uma peça com duração entre 10 e 12 minutos. Ainda neste ano, a Ospa planeja o lançamento de um álbum de compositores brasileiros e a gravação de outro, com repertório latino-americano. Planos não faltam, tampouco motivação, como Evandro Matté tem comprovado nas reuniões com a comissão de músicos da orquestra:
— A comissão me entrega as obras que os músicos querem tocar, e eles querem desafios. É algo que eu não sentia uma década atrás — diz o maestro, que é músico concursado da Ospa.