O público que for assistir ao espetáculo Samba da Maria, que Maria Rita apresenta nesta quinta-feira (21), no Auditório Araújo Vianna e na sexta-feira (22), em Pelotas, não será testemunha de um show nos moldes tradicionais, aquele baseado em discos, com um roteiro que raramente se modifica. Ao menos é o que garante a cantora de 42 anos ao definir o espetáculo.
— É um show com sambas que eu gosto de cantar, com coisas que gosto de ouvir, que gosto de explorar. É uma grande festa, não é como (o show de) um disco tradicional. É um show bem feliz, tem um roteiro que eu mexo constantemente. (O espetáculo) do Samba da Maria que fiz no ano passado não é o mesmo que faço esse ano — define Maria Rita, em entrevista por áudio de WhatsApp. Durante o papo, ela falou sobre outros temas e não fugiu de polêmicas.
No show, ela mostrará aos gaúchos uma vertente que vem aparecendo com mais força em sua carreira, nos últimos anos: seu lado sambista. No repertório, sucessos consagrados em sua voz, como Tá Perdoado, Maltratar e Corpo Só, além de clássicos do samba nacional, como Vou Festejar, Coisa de Pele e Juízo Final.
Nos últimos anos, tua aproximação com o samba tem ficado mais nítida. Tens fincado tua bandeira como sambista, tendo, inclusive, vencido o Grammy Latino, em 2018, de melhor álbum de samba, pelo disco Amor e Música. Como enxerga esse movimento na tua carreira, e o momento do samba como um todo?
O samba é um movimento e o sinto como um movimento de resistência que, hoje, tem pouco espaço, mas sempre foi assim. (O samba) já teve um momento de muita força mas, hoje, tem pouco espaço, pouca visibilidade. O que vejo, especialmente nas gerações anteriores à minha, é uma união, um amor, uma vontade de fazer acontecer, dos compositores, dos intérpretes, dos músicos. Existe um comprometimento, uma vontade, uma paixão muito grande, muito acima de só fazer arte. Existe um entendimento do lugar deles na história, na cultura, e isso é uma força que me emociona muito. E isso se reflete nos desfiles de escola (de samba), que é aquela dedicação o ano inteiro e que culmina em um desfile de 80 minutos. Com todas as dificuldades e pequenezas da indústria (da música), eu vejo o samba como resistente.
Nos últimos tempos, shows e espetáculos têm sido palco para manifestação dos artistas e do público, envolvendo questões políticas, muitas vezes. O que achas dessas manifestações?
Enquanto a nossa democracia estiver sendo preservada, os espaços devem ser ocupados como o artista acha que eles têm que ser ocupados. Têm artistas que se recusam a fazer política (no palco) e outros que não se entendem em cima de um palco se não for pra fazer política, e isso é válido, é muito forte. A gente ocupa os espaços que a gente tem e usa as armas que a gente tem, dentro das batalhas que a gente quer lutar. Eu não faço um show político, não é politizado. Eu faço um show onde a política está presente, onde a consciência está presente, isso para mim é importante, pois eu tenho um microfone na mão. É fundamental o artista fazer o que bem entender dentro do seu espaço. E o público querer ir assistir isso, ou não, está dentro do entendimento do livre arbítrio, da democracia.
E quero ver como vai ser o dia em que a gente perder isso. E esse dia não sei se está longe, me parece um pouco perto demais, para o meu gosto. O público tem a generosidade de sair de casa para ver um espetáculo porque ele quer. Esse movimento, por si só, é político. O cara pode estar indo (ao show) só pular, a noite inteira. Mas é uma decisão dele, e ele está consumindo cultura. Isso só é possível dentro de um conceito de democracia. Eu tive situações com (a turnê do show anterior), Amor e Música, onde havia três orixás no cenário. E teve gente que saiu do show. E a pessoa está no direito dela. Ela não tem o direito de me atacar, mas tem o direito de levantar e sair.
Como enxerga o tratamento que vem sendo dado para a cultura no país?
Fico estarrecida, por vezes preocupada, indignada com a incapacidade de avaliação da necessidade da cultura. Um país sem cultura é um país sem memória, é o artista que traduz as ideias, sentimentos, que traduz as dores e as mazelas de uma alma humana. E é muito estranho, para mim, ver como isso não é fundamental e crucial.
Samba da Maria
Quinta-feira (21)
- No Auditório Araújo Vianna (Avenida Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre, às 21h.
- Ingressos a R$ 240 (plateia alta central), R$ 160 (plateia alta lateral), R$ 200 (plateia baixa lateral), R$ 360 (plateia baixa central) e R$ 440 (plateia gold), à venda em uhuu.com, na bilheteria do Teatro do Bourbon Country, (Túlio de Rose, 80) e no local, a partir das 16h.
Sexta-feira (22)
- No Theatro Guarany (Rua Lobo da Costa, 849), às 21h, em Pelotas.
- Ingressos a R$ 170 (plateia), R$ 200 (plateia gold) e R$ 400 (camarote), à venda no Posto 3k, (Avenida Ferreira Viana), na Hercílio Calçados (Andrade Neves, 1.724), no Empório Gelei, no Shopping Pelotas (Avenida Ferreira Vianna, 1.526 — Loja 1.112) e em uhuu.com.