Por três dias, a partir de sexta-feira, fãs de música, neohippies sustentáveis, hipsters politizados, roqueiros nostálgicos, jovens de cabeça aberta e toda sorte de boa gente vão se reunir no bucólico balneário Ouro Verde, a quatro horas de Porto Alegre, para vivenciar o que só os grandes festivais a céu aberto podem proporcionar: convivência coletiva ao som de bandas ao vivo e com o pé sujo de lama.
O festival Morrostock chega a sua 12ª edição com status de evento importante na agenda cultural não só regional, mas nacional. Em 2018, reúne em seu line-up mais de 30 bandas, incluindo grandes nomes do cenário brasileiro, e expande suas atividades para Porto Alegre, onde seis apresentações, incluindo a lendária banda feminista norte-americana L7, compõem um circuito paralelo ao evento. O músico e produtor Paulo Zé Barcellos, à frente da organização do Morrostock desde sua concepção, lembra que criou o evento com a intenção de "conseguir perdurar pelo maior período possível e sempre crescer em relação ao ano anterior", mas admite que a edição deste ano ganhou caráter especial:
– Reunir pessoas com o mesmo ideal renova as energias, dá força para seguir em frente e resgata o ânimo. Essa reunião é sempre muito importante e produtiva, mas esta é uma edição diferente, porque está diante de uma mudança significativa no cenário político nacional, para não dizer latino e mundial. Dentro do nosso conceito, marca um novo momento, em que festivais, artistas e o povo trabalhador da cultura terão que ressignificar sua atuação e começar do zero, independentemente da experiência que tenham – reflete Barcellos.
A escalação de bandas deste ano é marcada pelo retorno do Cordel do Fogo Encantado aos palcos. Após um hiato de sete anos, a banda-coletivo-performance pernambucana voltou aos palcos com disco novo, Viagem ao Coração do Sol, e deve trazer um show totalmente modificado para o interior gaúcho – o grupo também toca nesta quinta-feira, às 23h, no Opinião, em Porto Alegre. Para Lirinha, líder do Cordel do Fogo Encantado, festivais como o Morrostock proporcionam momentos raros para bandas – principalmente as de relação quase íntima com o público, como a Cordel.
– Nós voltamos em um dos momentos em que está mais difícil reunir os diferentes. Percebo que os shows, principalmente os festivais, nos colocam neste exercício da convivência. A existência do Morrostock agora é de uma importância ainda maior, porque essas reuniões em torno da música, que são sempre celebrações, se tornam ainda mais potentes em momentos de tensão como o que a gente vive.
Além do Cordel, os dois palcos do Morrostock vão abrigar apresentações de Carne Doce e Letrux, nomes do novo cenário nacional que fizeram dois dos shows mais marcantes do ano em Porto Alegre, e de gente talentosa do nosso pago, casos de Dingo Bells, Supervão, Paola Kirst e Bloco da Laje – nomes que, para o organizador do festival, representam um novo momento da música feita por aqui, quase de libertação.
– Nossa cena vem mudando como nunca. Muito mais bandas interessantes passaram a produzir materiais novos e galgar caminhos que antes só o rock gaúcho trilhava, que é fazer a circulação interna mas conseguir também sair do Estado – avalia Paulo Zé Barcellos, listando nomes que conseguiram se "desprender da nomenclatura de rock gaúcho", como Catavento, Saskia, Quarto Sensorial e mesmo bandas com integrantes históricos no cenário regional, como Bife Simples, Cartolas e Os Replicantes.
Completam a escalação do festival as oficinas, parte importante da experiência, com temas que vão do misticismo ao autoconhecimento – uma pista do senso coletivo que se cria no Morrostock, espécie de refúgio cultural, como explica Barcellos.
– O que a gente faz aqui é tão diferente de tudo isso, dessas ideias atuais, que chegamos a dizer que aqui é um mundo à parte.