Em outubro, vou encontrar pela terceira vez o músico vivo mais importante para mim. Garanto que vai ser a melhor de todas, e vou explicar por que.
Na primeira vez, foi o sonho. Em 2009, eu estava no lugar mais barato do Citi Field, em Nova York, assistindo lá de cima, quase só pelo telão, um beatle tocando as músicas da minha banda favorita. Da compra do ingresso até o fim da última nota, o que eu mais sentia eram ansiedade e alívio se alternando. Será que o ingresso vai vir pelo correio? Veio. Será que ele vai tocar Drive My Car? Tocou. Será que vai ser incrível? Foi.
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Na segunda vez, em Porto Alegre, tudo foi emoção. Receber o beatle "em casa" me deu dias a fio repletos daquela alegria boba de fã. Fiz plantão no hotel para tentar uma entrevista com a banda do Paul (e consegui uns minutos de papo com o guitarrista em uma loja de shopping); minha banda fez um show-tributo e tocou pra quem estava na fila no Beira-Rio; vi a emoção no rosto da minha mãe ao ver seu ídolo de adolescência ali pertinho; e a surpresa dela ao ver que eu chorava mais do que ela.
Por que então ir pela terceira vez? Meus colegas especializados em música explicariam muito melhor as razões objetivas, como a capacidade de Sir Paul em seguir atual, gravando músicas que parecem ser feitas em 2017 e não em outras décadas. Ou o talento para relembrar os Beatles em arranjos criativos e ao mesmo tempo fiéis – uma das coisas que o guitarrista Rusty Anderson me disse foi: "Ele nos deixa livres para tocar como quisermos, mas às vezes o que queremos é tocar como os Beatles mesmo".
Mas eu vou dar só um motivo, e esse basta para qualquer um ir pela primeira, terceira ou décima vez: Paul McCartney vai entrar no palco dia 13 de outubro fazendo algo que ama de verdade. Ele vai tirar da manga alguma dos Beatles que eu não estarei esperando; se alguém da banda errar, vai parar a música e começar de novo; terá passado o som à tarde, mesmo que todo o universo já esteja careca de saber como ele gosta da equalização no palco; vai ter aquecido a voz com algum gospel ou country que cairá no Youtube e nos arrepiará. Quando chegar a duas horas de show, nossas pernas estarão meio cansadas e nossas gargantas, roucas, mas ele vai tocar ficha mais uma hora dando risada, como se não tivesse 75 anos.
Isso porque Paul McCartney é louco por fazer música. Em estádios gaúchos ou muquifos de Hamburgo, com orquestras, pianos ou um baixo barato da época dos Beatles, é certo que ele gosta de tocar até mais do que a gente, de ver. E olha que a gente adora assistir.
E, como ele gosta tanto disso, acabou criando uma regra bem incomum no showbiz: o melhor show de Paul McCartney é, sempre, o próximo.