Músico e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil tomou posse como membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) na noite desta sexta-feira (8). A cerimônia foi realizada no Petit Trianon, no centro do Rio de Janeiro, e teve início às 21h.
Gil, 79 anos, foi eleito para a cadeira de número 20 da Academia, ocupada anteriormente por Murilo Melo Filho, que morreu em maio de 2020, aos 91 anos. Durante seu discurso de posse, o músico lembrou o antecessor, destacando sua carreira e a impressão que ele deixou de ser um "homem de diálogo, sempre gentil e prestativo", além de estar constantemente disposto a representar a ABL, com seu "fardão".
"Entre tantas honrarias que a vida generosamente me proporcionou essa tem para mim uma dimensão especial, não só porque aqui é a casa de Machado de Assis, um escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL, fundada em 20 de julho de 1897, representa mesmo para quem a critica a instância maior que legitima e consagra de forma perene a atividade de um escritor ou criador cultura em nosso país", afirmou o novo "imortal".
Durante sua fala, o novo imortal destacou, ainda, a responsabilidade que a instituição tem de fortalecer a imagem intelectual do país que possa se impor frente ao obscurantismo, ignorância, e "demagogia de feição antidemocrática".
— Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora. Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da Internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos — declarou Gil.
Ao tomar posse, Gil torna-se o segundo negro a ocupar uma cadeira na ABL. O primeiro é o escritor e professor Domício Proença Filho, que chegoua presidir a Academia em 2016 e 2017. Antes deles, Machado de Assis também integrou a Academia, mas como um dos fundadores.
Trajetória
Um dos pré-requisitos para disputar um assento na academia é ter ao menos um livro publicado. Gil lançou Todas as Letras em 1996, uma coletânea de suas composições, que incluem obras emblemáticas como Aquele Abraço, Expresso 2222 e Andar com Fé. É também coautor de alguns livros, como Gilberto Bem Perto, com Regina Zappa, Cultura pela Palavra, com Juca Ferreira, Disposições Amoráveis, com Ana de Oliveira, e O Poético e o Político e Outros Escritos, com Antonio Risério.
Gil também marcou a música brasileira: foi um dos criadores do movimento tropicalista, tornou-se uma das vozes mais marcantes da música popular, virou símbolo de resistência contra a ditadura militar, exilou-se do Brasil, fez um retorno triunfal e ganhou prêmios como o Grammy e o Grammy Latino.
Fora dos palcos, o artista também se notabilizou na política. Foi vereador de Salvador entre 1989 e 1992 pelo então PMDB e ministro da Cultura do governo Lula entre 2003 e 2008 pelo PV, partido ao qual é filiado até hoje. Em 1999, foi nomeado pela Unesco como Artista pela Paz. No âmbito da ONU, foi embaixador para agricultura e alimentação. Além disso, foi um dos principais defensores da livre circulação de informação na internet.