Por Juliana Palma
Jornalista e sommelière
No mundo do vinho, algumas palavras podem assustar aqueles que não têm intimidade com o assunto. Uma delas é terroir. O que significa, afinal? De fato, até para quem está acostumado a este universo, o termo é complexo. E é isso que o livro Sua Excelência, o Terroir, escrito pelo geólogo e sommelier Guilherme Pinz, tenta, de certa forma, desmistificar.
Terroir é uma palavra de origem francesa que não tem tradução em outros idiomas e por muitos anos foi – e ainda é – alvo de debates entre enófilos do mundo todo. Em 2010, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) chegou a um consenso e estabeleceu uma definição oficial sobre seu significado, embora alguns grupos ainda tenham divergências quanto a isso.
No livro, Pinz traz um pouco de sua experiência como geólogo e sommelier para falar sobre diferentes regiões produtoras ao redor do mundo, apresentar dados técnicos sobre terroir, descrever as principais uvas tintas e brancas e suas características e oferecer impressões sobre produção de vinhos, degustação e harmonização.
Embora o texto faça uso de uma linguagem simples e o autor facilite o entendimento de termos técnicos, é um livro para quem já tem certa experiência no assunto. Ainda assim pode ser cansativo passar pelo segundo capítulo. É lá que está a descrição minuciosa dos tipos de rochas que compõem o solo das principais regiões vinícolas do planeta – o coração e a alma do terroir, segundo Pinz.
No livro, o foco é o solo, parte importantíssima do ecossistema, mas vale lembrar que um terroir é mais do que isso: é também relevo, altitude, temperatura média e amplitude térmica, quantidade e regularidade de luz solar, além de incidência de chuva, vento e umidade. No terroir, solo, topografia e clima interagem para determinar o microclima de um vinhedo. E, a partir dele, teremos uvas com características únicas que remetem à região onde foram plantadas e colhidas.
Por isso a importância de se conhecer detalhes do terroir – o que Pinz apresenta muito bem. O segundo capítulo é interessante para quem curte o tema, e depois a leitura flui, leve, ao falar de história e degustação de vinhos.
Além de tratar de regiões consagradas como França, Itália e Portugal na Europa e Argentina e Chile na América do Sul, Pinz faz considerações sobre o terroir e os vinhos brasileiros. Por isso, nada mais justo do que trazer aqui outro livro recém-lançado, com dicas de rótulos produzidos no país e que valem a pena estar no radar dos enófilos gaúchos.
Em 101 Vinhos Brasileiros, o pesquisador Michael Waller apresenta o resultado de inúmeras entrevistas, centenas de rótulos degustados e dezenas de visitas a produtores. Como o próprio autor comenta, não é uma lista dos melhores vinhos nacionais, mas sim uma forma de direcionar o leitor a conhecer exemplares selecionados.
Dividido em seis categorias, que trazem vinhos de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, 101 Vinhos Brasileiros pode ser tomado como um guia, mas vai além disso: a cada rótulo citado, o autor traz crônicas – se é que se pode chamar assim – sobre o vinho, suas características e histórias do produtor e da região. Em alguns casos, é possível visualizar a cena da degustação, e é isso que faz da obra um guia, mas um guia diferenciado.
Waller traz seu parecer sobre espumantes – um dos segmentos em que o Brasil mais conquista reconhecimento internacional –, brancos tranquilos, tintos em blend, tintos em varietal, microlotes autorais e econômicos. Sim, embora o preço do vinho brasileiro seja uma reclamação comum entre os consumidores, há rótulos por menos de R$ 50 que são boas opções para quem tem interesse em experimentar.
101 Vinhos Brasileiros cita pesquisas que indicam que, entre consumidores de bebidas alcoólicas, 60% preferem cerveja ou chope. Além disso, é sabido que, mesmo batendo recordes na pandemia, o consumo de vinho no Brasil chega a três litros per capita ao ano, enquanto em países como Portugal, França e Itália alcança 50 litros. Descobrir o vinho brasileiro seria importante para aumentar esse dado.
Este é um livro fácil de ler e agrada tanto o leigo quanto o consumidor experiente que quer conhecer um pouco mais dessa indústria nacional.