Entre as maiores especialistas no tema da dependência química no mundo, a psiquiatra norte-americana Anna Lembke é um dos nomes confirmados para o ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento 2024. Hoje, a autora do best-seller Nação Dopamina (2022) volta o seu foco também para o estudo daquilo que chama de “drogas digitais”.
Professora na School of Medicine e chefe da Addiction Medicine Dual Diagnosis Clinic da Universidade de Stanford, Anna estará em Porto Alegre em 18 de setembro, no Teatro Unisinos. Os ingressos para a temporada “Quem está no controle?”, que contará com outros cinco nomes de pensadores da atualidade, podem ser adquiridos em www.fronteiras.com.
Em linguagem acessível ao público leigo, a especialista explora no livro Nação Dopamina (2021) as descobertas científicas que explicam por que a busca incansável do prazer gera mais sofrimento do que felicidade. Se hoje vivemos em um mundo que é super abastecido de estímulos, o que foi catalisado pela popularização de smartphones, obter o equilíbrio de exposição do cérebro a dopamina passa por uma relação mais saudável com a tecnologia.
O vício digital, principalmente em redes sociais, é hoje um dos mais prevalentes do cotidiano, com riscos para a saúde mental, e tem sido o foco atual da carreira da pesquisadora. Segundo dados da McGill University, o Brasil também sofre com a questão e está em 4º no ranking dos países com mais viciados em smartphones.
Já em seu segundo livro, Nação Tarja Preta (2023), a psiquiatra revela o que está por trás da dependência em diversos medicamentos receitados todos os dias para jovens, adultos e crianças. As duas temáticas devem permear o debate da conferência de setembro.
A questão do que é o vício e como ele afeta as pessoas no século 21 passa por algumas considerações que não são conhecidas por diversos indivíduos. Veja a seguir como são tratadas essas questões sob a ótica da psiquiatra Anna Lembke.
1) Vício é uma doença mental
O conceito utilizado pela última e quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, na sigla em inglês) traz a dependência química como o uso de substâncias que levam a prejuízo ou a sofrimento clínico significativo – quadro que, em geral, pode acarretar a tolerância, a abstinência e o abandono ou a redução de importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas em razão do uso da substância. A medicina levou alguns anos para reconhecer o vício como uma doença mental, e por isso vivemos em uma sociedade que tende a punir os comportamentos decorrentes da enfermidade, o que causa baixo acesso e adesão às terapias.
2) Podemos ser viciados em comportamentos tanto quanto em substâncias
Segundo Anna, vício pode ser tanto o uso compulsivo de uma substância como de um comportamento até um ponto que cause danos a si mesmo ou a outras pessoas. O DSM-V inclui apenas o transtorno do jogo como uma dependência comportamental. Para a especialista, no entanto, em breve veremos mais vícios desse tipo na lista, como dependência de redes sociais e internet.
3) “Drogas digitais” ativam os mesmos circuitos que drogas mais tradicionais
Mídias digitais, redes sociais e internet liberam dopamina, neurotransmissor de prazer, no centro de recompensa do nosso cérebro, um processo semelhante ao de drogas ilícitas e algumas lícitas, como o álcool, por exemplo. Quanto mais abundante a oferta da substância, mais viciante a experiência. Algumas pessoas, defende Anna, serão mais vulneráveis aos vícios e não precisarão de exposição a doses altas de substâncias ou comportamentos para ficarem viciadas. De maneira geral, nossa tendência é viciar naquilo que consideramos essenciais à sobrevivência. O que ocorre é que, cada vez mais, adotamos alguns comportamentos como se fossem essenciais à sobrevivência. Mais uma vez, o uso de redes sociais serve como um exemplo.
4) Existem três sinais de alerta que indicam o vício em algo
A psiquiatra aponta três sinais de que podemos estar nos viciando em algo, que ela descreve como “os três Cs”: controle, compulsão e consequências. Quando percebemos não ter controle sobre o consumo de uma substância ou comportamento, com boa parte do nosso espaço mental ocupado em pensar sobre o uso, ou seja, a compulsãoapresentada, são grandes as chances de estarmos diante de um vício. Mas a sua característica mais marcante talvez seja o uso indiscriminado, apesar da consciência sobre as consequências do consumo.
5) É possível melhorar de um vício
Ainda existe um estigma muito grande sobre os vícios, ressalta Anna, que apontam para uma ideia de problema de força de vontade ou de caráter. Em um mundo de cada vez mais estímulos, criados por todos como sociedade, assumimos uma parcela de culpa pela abundância de oferta de dopamina. Afirmar que não é possível melhorar de um vício é um dos maiores equívocos em torno da temática. Para a especialista, milhões de pessoas ao redor do mundo lutaram e venceram seus vícios e são grandes exemplos para outras.
Fronteiras do Pensamento 2024
Quem se inscrever no Fronteiras do Pensamento 2024 terá a oportunidade de estar frente a frente com uma das maiores autoridades do mundo no assunto de dependência química, além de 5 outros conferencistas:
18ª TEMPORADA – Quem está no controle?
- 30 de abril – Stuart Russell
- 05 de junho – Muriel Barbery
- 10 de julho – Yascha Mounk
- 07 de agosto – Nouriel Roubini
- 18 de setembro – Anna Lembke
- 30 de outubro – Simon Sebag Montefiore
Inscrições: www.fronteiras.com
Informações: relacionamento@fronteiras.com
WhatsApp: (11) 93775-5752