Capacidade similar à do Theatro São Pedro (TSP), mas com espaço maior para grandes espetáculos: o Teatro Simões Lopes Neto foi apresentado nesta terça-feira (18) à imprensa, com a presença do governador Eduardo Leite e da secretária da Cultura do Rio Grande do Sul, Beatriz Araujo.
Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, com entrada pela Rua Riachuelo, 1.089, o novo palco gaúcho representa o fim de uma novela que se arrastou por 22 anos. Com inauguração marcada para o dia 27 de março, o Simões marca a entrega definitiva do Multipalco Eva Sopher — uma obra que teve o lançamento de sua pedra fundamental em 2003.
O novo teatro tem formato italiano (estrutura em forma de caixa, com uma abertura frontal) e conta com 700 metros quadrados. Para os espectadores, há 576 lugares entre as plateias baixa e alta, galerias e quatro balcões superiores e inferiores construídos nas laterais do local.
Para efeito de comparação, o TSP conta com 650 lugares, mas a capacidade ficará similar à do Simões após a reforma pela qual passará o teatro histórico.
Palco maior que o do São Pedro
Com palco de 240 metros quadrados, o diferencial do novo teatro está em seu fosso de 109 metros quadrados — espaço rebaixado em frente à caixa cênica. O Simões poderá comportar orquestras de aproximadamente 60 músicos, dependendo do tamanho dos instrumentos utilizados. Em comparação, o TSP tem um palco de 218,35 metros quadrados e conta com um fosso que comporta até duas dezenas de músicos.
Na retaguarda do palco, há um elevador de carga de 3m40cm de largura por 1m70cm de profundidade, visando ao transporte de cenários robustos. Há 13 camarins, que serão divididos de acordo com as programações simultâneas do complexo cultural — que conta também com o Teatro Oficina Olga Reverbel e a Concha Acústica.
A acústica do Simões tem sete painéis refletores e difusores acústicos, feitos com madeira, organizados em diferentes pontos da sala.
No quesito acessibilidade, o teatro conta com 10 lugares destinados a cadeirantes e outros 10 para seus acompanhantes, além de seis poltronas reservadas para pessoas obesas. Todos os espaços do Multipalco têm circuitos acessíveis por elevador e rampa, desde os estacionamentos. Está prevista para as próximas semanas a abertura de sala de comunicação alternativa e de acolhimento sensorial para pessoas neurodivergentes.
Além do Simões, um novo café será inaugurado no complexo na mesma data, assinado pela July Pires Coffee & Bakery, confeitaria especializada em doces de Pelotas.

Efervescência cultural
Em um primeiro momento, o Simões deve abraçar as atrações que seriam destinadas ao TSP, que será fechado para reformas a partir de 24 de março.
— Tivemos a estratégia de fechar um teatro quando abre outro justamente para a classe artística não ficar com essa lacuna. Quando o TSP reabrir, será uma maravilha: vamos ter uma efervescência cultural, uma demanda imensa com teatros desse porte e o Olga Reverbel (destinado a novas produções e espetáculos experimentais) — destaca Gabriela Munhoz, diretora artística da Fundação Teatro São Pedro.
Sobre a linha curatorial de cada teatro, ainda há discussões. Porém, Antonio Hohlfeldt, presidente da Fundação, apresenta a ideia inicial:
— O São Pedro vai ficar, basicamente, para música de câmara e espetáculos de teatro. O Simões deve focar, sobretudo, em grandes espetáculos musicais, ópera e dança.
Curadoria de "busca ativa"
Gabriela acrescenta que a Fundação está, cada vez mais, desenvolvendo uma curadoria de busca ativa. Ou seja, há uma constante pesquisa de obras que estão acontecendo no Estado, no país e fora dele, alinhadas à linha curatorial do teatro.
— É um pensamento que busca diversidade, pluralidade e questões importantes que refletem esse tempo, sobre esse momento. Significa estar conectado a 2025 — completa.
Conforme Hohlfeldt, a agenda do Simões para o primeiro semestre já está "100% lotada". Já o calendário do segundo semestre só não está 100% preenchido porque, como ele frisa, ainda não foi oficializada a abertura, mas já há pedidos e reservas para quase todo o semestre.
Finalmente, o Multipalco
O projeto do Multipalco é um sonho antigo. Já em 1985, a então presidente da Fundação Theatro São Pedro, Eva Sopher, oficiou ao governo do Estado apontando a necessidade de erguer um anexo ao TSP, recomendando que a nova construção fosse subterrânea.
Juntos, o TSP e o prédio anexo formam um dos maiores complexos culturais da América Latina, ocupando um espaço de mais de 25 mil metros quadrados. O equipamento cultural tem sete andares, sendo cinco subterrâneos. Só que a obra demoraria décadas para sair do papel.
A área para a construção só foi conquistada em dezembro de 1999, após negociação que envolveu município, Estado e particulares. Em 2003, com o lançamento da pedra fundamental, houve o começo das obras — início das escavações e detonações.
Contudo, o projeto avançou lentamente ao longo dos anos. Hohlfeldt atesta que faltaram investimentos, além de eventuais entraves burocráticos e institucionais.
— Com o falecimento da Dona Eva (em 2018), eu assumi a direção do teatro, ainda no tempo do governador José Sartori. Havia uma decisão de tentarmos retomar (as obras). De fato, começamos com pequenas ações, mobilizando emendas de deputados gaúchos, mas eram valores muito pequenininhos, de R$ 500 mil a R$ 1 milhão — recorda.
Investimentos de R$ 24,5 milhões
O projeto voltou a ganhar força em 2021, quando passou a receber aportes do governo estadual, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). No total, o valor investido pelas duas gestões do governador Eduardo Leite no local chegará a R$ 24,5 milhões.
— O Multipalco já havia recebido importantes investimentos, mas estava parado há muitos anos. Nada acontecia aqui — descreveu Beatriz na coletiva de imprensa. — Diante dessa situação, tomamos a iniciativa de retomar e entregar.
Em sua fala, Leite relatou que a conclusão do Multipalco só se viabilizou com o equilíbrio das contas do Estado. O governador acrescentou:
— Nós acreditamos muito na cultura, pelo poder transformador que ela tem. Pela geração de consciência, pelo valor que tem na movimentação de turistas. Por isso, realizamos esses investimentos.
Em 2023, houve a inauguração do Teatro Oficina Olga Reverbel, das salas de dança e de circo, camarins e salas de ensaios. No Multipalco, já eram realizadas atividades de oficinas, workshops e aulas de música, além de espetáculos no Olga. Só faltava o teatro italiano.
— Estamos conseguindo cumprir o sonho da Dona Eva, que era terminar as obras do Multipalco. Quando o São Pedro foi inaugurado, em 1858, mudou completamente a vida de Porto Alegre. Eu diria que é mais ou menos o que estou imaginando em relação agora ao Multipalco — avalia Hohlfeldt. — Talvez não o impacto imediato tão forte, mas em médio e longo prazo poderemos dividir a história cultural do Rio Grande do Sul em antes e depois do Multipalco.
Obras futuras
Hohlfeldt adianta que a Fundação trabalha também com a possibilidade de construir uma cobertura retrátil na Concha Acústica do Multipalco, com uma projeção inicial de custo de R$ 4 milhões. A programação deve ser destinada a atrações populares e gratuitas.
— A ideia é que a gente consiga fazer isso ainda em 2026 — pontuou.
Outro projeto para o futuro é a construção de um novo memorial da Fundação Theatro São Pedro, com uma linguagem contemporânea e interativa.
Programação de abertura
A programação artística de inauguração terá 10 espetáculos entre os dias 29 de março e 11 de maio, abrigando diferentes temáticas, além de homenagear o escritor e jornalista pelotense João Simões Lopes Neto.
Antes, no dia 27, haverá um evento de abertura para convidados. O primeiro espetáculo encenado será Turandot, ópera de Puccini apresentada pela Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (Cors) em parceria com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa).
Na inauguração e durante o mês de abril, a galeria do foyer do Multipalco apresentará a exposição Multipalco Eva Sopher — Arquitetura — O LIVRO, que mostrará os estudos dos arquitetos Julio Collares, Dalton Bernardes e Marco Peres para o complexo.
Confira a programação completa.