Com a chuva e posterior alagamento do 4º Distrito, na zona norte de Porto Alegre, o Centro Cultural Terreira da Tribo encontra-se inundado desde a semana retrasada. Localizado desde 2009 na Rua Santos Dumont, 1.186, no bairro São Geraldo, o espaço chegou a estar com aproximadamente 1m50cm de água.
O centro cultural é administrado pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, uma das grandes referências artísticas de Porto Alegre e do país, com 46 anos de trajetória. Ao longo das décadas, o grupo sempre buscou promover um teatro revolucionário e desenvolver oficinas teatrais de iniciação, pesquisa de linguagem e treinamento de atores, incluindo elaboração e montagem de espetáculos.
Conforme Tânia Farias, integrante do Ói Nóis Aqui Traveiz, a água fez flutuar baús, instrumentos musicais, adereços cênicos e figurinos. Ela acrescenta que máquinas de costura, máquina de lavar e secar, equipamentos de som, luz e vídeo, cenários e adereços de sete espetáculos do repertório do grupo ficaram inundados, além da loja da Terreira também estar comprometida.
— Não temos como dizer como está nossa biblioteca. Há várias questões que não conseguimos dizer a situação — lamenta Tânia. — Quando retornarmos, estaremos sem nosso material para realizar espetáculos.
Ainda, Tânia relata que parte do acervo histórico da Tribo estava na Terreira para ser organizada para o Museu da Cena – Ói Nóis Aqui Traveiz:
— Era um passo importante para a memória do teatro brasileiro. Tínhamos feito uma triagem de materiais de outras décadas, lá do início do grupo, nos anos 1970, que iam começar a ser registrados para um repositório digital. Iam passar por um processo de conservação. O material estava todo ali.
Em comunicado divulgado nas redes sociais, o grupo destacou que, em um primeiro, não estará pedindo Pix. "Estamos primeiro entendendo como vai ser", diz a publicação. Tânia explica que a Tribo tem como objetivo inicial integrar a corrente de solidariedade, mas também conscientizar as esferas públicas de que trabalhadores da cultura precisam ser auxiliados.
É importante que o poder público saiba que as pessoas que trabalham com arte e cultura precisarão entrar nesse plano de reconstrução
TÂNIA FARIAS
Integrante do Ói Nóis Aqui Traveiz
— Nós também estamos trabalhando como voluntários em diferentes ações. Não pedimos (Pix) ainda porque entendemos que a prioridade é salvar vidas — ressalta. — Queríamos divulgar nossa situação porque é importante que o poder público, de modo amplo, saiba que as pessoas que trabalham com arte e cultura precisarão entrar nesse plano de reconstrução. Divulgando a situação da Terreira, a gente acaba falando de outros espaços que também vão precisar de auxílio.
Além da Terreira afetada, alguns integrantes da Tribo tiveram que abandonar suas casas, que ou foram tomadas pelas águas ou não tinham mais água e/ou luz. Porém, garante Tânia, todos estão em segurança.
"É tudo muito triste, mas é ótimo receber esse carinho"
Antes da inundação, a Terreira estava sendo 100% utilizada, como aponta Tânia. Pela manhã, o espaço servia para ensaios do grupo, enquanto à tarde e à noite eram realizadas aulas de teatro. A segunda-feira era reservada para apresentações.
Em 2022, ficou definido que a Terreira trocaria de endereço para a Travessa Carmem, 95, no bairro Floresta. Os artistas receberam o Termo de Permissão de Uso (TPU) da prefeitura. A reforma do espaço, que se encontra bastante degradado, ficou a cargo da Tribo. No entanto, o grupo tenta há mais de ano aprovar um projeto de reforma em meio a entraves burocráticos.
— Por ora, não conseguimos pensar no que vamos fazer — suspira Tânia.
A presidenta da Fundação Nacional de Artes (Funarte) entrou em contato com o grupo e informou que o governo está atento às necessidades do setor. Tânia destaca que artistas do Brasil inteiro e de fora do país mandaram mensagens de apoio à Tribo, reconhecendo a importância dos atuadores.
— É tudo muito triste, mas é ótimo receber esse carinho. Dá muita força — sublinha.