O diretor de teatro e gestor cultural Luciano Alabarse, que retornou à coordenação-geral do Porto Alegre em Cena em sua 31ª edição, abraçou um desafio logo no começo de sua nova gestão: atender à classe artística, uma das mais afetadas com a tragédia climática que assolou o Estado. Para tentar mitigar os efeitos deste episódio, decidiu mudar o planejamento do festival e focar nos profissionais gaúchos.
Desta forma, a próxima edição do Porto Alegre em Cena será exclusivamente voltada para os artistas do Rio Grande do Sul e, com este movimento, a ideia é contribuir para o reestabelecimento do teatro, da dança e do circo no Estado. O evento, previsto inicialmente para setembro, foi adiado para dar tempo de fazer os ajustes necessários e, agora, tem nova data: ocorre entre 21 de novembro e 1º de dezembro. As atrações, porém, ainda não são conhecidas.
— A gente já tinha uma programação internacional e nacional muito bonita, de entusiasmar quem gosta de teatro, mas aí o céu desaba sobre o Rio Grande do Sul. Essa situação começou a doer em mim, de verdade. Decidimos fazer um festival que vá ao encontro dos meus irmãos de ofício, que alguns estão com as suas sedes alagadas, outros perderam tudo, com teatros que não têm condições de ter uma temporada normal. Então, as pessoas estão precisando muito de trabalho. É uma questão de humanidade — explica Alabarse.
De acordo com o coordenador do festival, este será um Porto Alegre em Cena inédito, mas os critérios para decidir quem irá participar do evento ainda estão sendo trabalhados, e a previsão é de que até a metade de junho a formatação do evento já esteja estabelecida pela equipe. Esta, por sinal, é formada por Alabarse e, também, por Bruno Mros, Cláudia D’Mutti, Fernando Zugno, Jaques Machado, Karine Paz, Letícia Vieira, Marcelo Restori, Vika Schabbach e Vitor Ortiz.
Apoio
O anúncio do foco do Porto Alegre em Cena deste ano, segundo o coordenador do evento, foi muito bem aceito pela comunidade teatral do Estado e diversos artistas já o procuraram para demonstrar interesse em participar e apoiar. Além de ser um festival que contará com apresentações focadas em produções gaúchas, também haverá um apoio à classe no geral, de atores a técnicos, conforme conta Alabarse:
— O Em Cena não é a Secretaria de Cultura do Estado, sequer a Secretaria de Cultura do município, mas o Em Cena é um evento potente e que quer usar essa potência para arrecadar fundos. Obviamente, todo o fundo arrecadado, seja através de patrocínios ou de outras fontes, será para esses grupos. Não é só a apresentação de uma lista de espetáculos legais, não. Vamos ter um programa de assistência a escolas de teatro, outra linha é atender sedes que foram destruídas pela enchente.
Alabarse, entretanto, reforça que, para dar esta atenção especial aos atingidos pelas enchentes, o evento terá uma "meta ambiciosa", o que fará desta edição algo "fora da curva". Com isto, o coordenador do festival diz pretende abraçar a arte do Rio Grande do Sul no final do ano.
— Para isso, a gente vai começar, na semana que vem, um processo de captação, porque precisamos de leis de incentivo. Vamos convocar as empresas, os patrocinadores regulares e, também, novos, porque não é só patrocinar um evento artístico. Este Em Cena tem um cunho absolutamente social de inclusão, de resgate, de trazer esperança para uma classe tão trabalhadora, que tanto mexe com a nossa economia, que é a classe artística — complementa Alabarse.