Coloque quatro atores em cima de um palco. Adicione histórias para fermentar 150 personagens. Tempere o chão com 11 mil peças de roupa. Por fim, misture bem, até formar uma massa de insanidade. Se PI - Panorâmica Insana fosse uma receita, bastariam esses ingredientes para a elaboração de um apetitoso bolo. Mas, para uma peça de teatro, é um soco no estômago. A composição caótica do espetáculo nos convida a refletir sobre importantes questões sociais e sobre a atitude da humanidade, de uma forma irônica, poética e incrivelmente realista.
Em cartaz neste fim de semana na 26ª edição do Porto Alegre em Cena, PI começou a ser pensada durante Cheias de Charme, novela de 2012 da Globo que tinha no elenco o quarteto da peça: Cláudia Abreu, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo. Cláudia e Luiz levaram o projeto para os dramaturgos Júlia Spadaccini e Jô Bilac com foco nos excluídos sociais. Mais tarde, a diretora Bia Lessa ampliou a temática, colocando uma lente de aumento em temas que afetam as nossas vidas.
— Estamos tentando entender a loucura que deu errado no mundo contemporâneo — explica o ator Luiz Henrique Nogueira, que atendeu a reportagem por telefone antes de pisar em Porto Alegre.
A espinha do espetáculo são as milhares de peças de roupa amontoadas pelo chão, como se fosse a desordem de um quarto de um adolescente. Em PI -Panorâmica Insana, elas são usadas como um código para falar da humanidade. Os atores fazem a troca de figurino e de personagens em cima do próprio palco, dividido milimetricamente com uma linha invisível para que os atores não se percam - ou percam suas roupas - em cena.
— É a grande mágica. E é toda noite a mesma roupa. Já aconteceu de eu não achar a roupa de um personagem e pegar outra, mas é um erro e é muito eventual. A gente sabe exatamente onde elas estão, porque no processo de ensaio a gente dividiu o chão do palco em 24 casinhas e em cada casinha estão as roupas que a gente precisa usar. Foi um processo — disse, rindo, Nogueira.
Os primeiros 25 personagens mostrados em cena são apresentados com nome, identidade, CPF, profissão e orientação sexual. Baseado em suas histórias reais, a peça discorre sobre civilização, política, violência, miséria, riqueza e desejo.
— A peça propõe uma reflexão sobre esse mundo que criamos e que está tão sufocante. A proposta é instigar o público a sair da zona de conforto e se enxergar em suas crenças, na violência, em seu consumismo e em seus preconceitos. Cada um tem a sua subjetividade e vai refletir sobre os temas da peça do seu jeito. Provocar reflexão é o que nos interessa - ressaltou Cláudia Abreu.
De volta ao Porto Alegre em Cena
Bia Lessa voltará a pisar em um palco do Porto Alegre em Cena um ano depois de chamar atenção com a releitura do livro Grande Sertão: Veredas para o teatro. As duas peças possuem semelhança por conta da trilha sonora, com a mistura de músicas, ruídos e alteração nas vozes dos atores, que em determinados momentos são manipuladas com ecos e metalização para distorcer os discursos de forma proposital.
— Dessa vez, eu queria muito trabalhar com dados, números e estatísticas. Eu acho que a discussão, hoje, muitas vezes fica no campo da obviedade. É importante termos uma visão mais profunda, mais complexa, de onde estamos — contou Bia.
Com um discurso político-humanitário e abusando das questões estéticas e figuradas, PI -Panorâmica Insana nos convida a exercer a empatia de uma forma democrática, respeitando as opiniões da plateia e convidando os espectadores ao debate. Além de ser uma abreviação do nome da peça, PI também remete ao número matemático "pi", reforçando a ideia do infinito e do futuro da humanidade, que poderá ser catártico, assim como o espetáculo.
Serviço:
- Duração: 80 minutos
- Recomendação etária: 16 anos
- Sábado (14) e domingo (15), às 20h
- Teatro do Sesi (Av. Assis Brasil, 8787)
- Plateia Baixa e Plateia Alta: R$ 80 (inteira); R$ 40 (meia-entrada)
- Mezanino: R$ 30 (inteira);R$ 15 (meia-entrada)
- Vendas pelo Uhuu.com