Um grupo só de mulheres que se apresentam com rostos pintados de branco, batons vermelhos e vestindo tutus pretos de bailarina. À primeira vista, a Dakh Daughters parece uma banda punk que entrou para o circo. A experiência ao vivo traz mais elementos para complicar a equação: todas as suas sete integrantes, das quais cinco estarão em Porto Alegre, são atrizes, cantoras e multi-instrumentistas. Juntas, elas criam o que chamam de Freak Cabaret, uma combinação de teatro, poesia, dança e música que desafia classificações e poderá ser conferida hoje, na abertura do 26º Porto Alegre em Cena, no Theatro São Pedro.
A Dakh Daughters é incomum desde o berço: a banda não se formou em uma garagem, mas em um teatro de Kiev, na Ucrânia, onde suas integrantes eram atrizes de trajetória reconhecida: Nataliya Halanevych, Tanya Hawrylyuk, Zo, Solomiia Melnyk e Anna Nikitin, que tocarão em Porto Alegre, e Nina Harenetska e Ruslana Khazipova, que não estarão aqui. O grupo foi reunido em 2012, sob direção de Vlad Troitskyi, do teatro Dakh. Desde então, lançaram dois álbuns, If (2016) e Air (2019), que devem apresentar em Porto Alegre, junto com canções inéditas.
O experimentalismo dá o tom do espetáculo, baseado principalmente em teatro e música. Com instrumentos clássicos e nem tão clássicos assim que vão trocando de mão ao longo do show, a banda passeia por canções folclóricas da Ucrânia, rock, rap francês e ritmos orientais. Já as interpretações passam da raiva à calma e do suspense à ação. O resultado deu certo a ponto de ganhar destaque em veículos como o jornal The New York Times e a revista Rolling Stone. Viajando pelo mundo, o grupo se tornou uma espécie de embaixador cultural da Ucrânia. Para Tanya Hawrylyuk, que toca piano, flauta, baixo e percussão na banda, o país passa por um momento complicado que é refletido no show:
– As pessoas acabam descobrindo o país, que é lindo nas paisagens, nas pessoas e na cultura. Mas também um país que está lutando pela sua independência e liberdade há muito tempo. Tivemos a revolução há cinco anos, que trouxe boas mudanças, mas também as tragédias da anexação da Crimeia pela Rússia e da guerra que está sendo travada no leste do país.
Liberdade é um dos grandes temas do espetáculo, assim como o amor e a beleza. Segundo Tanya, o grupo se interessa mais por falar sobre essas questões, íntimas e universais, do que assumir posicionamentos políticos:
– Estamos contando uma história sobre a Ucrânia, através dos tempos, já que usamos canções folclóricas antigas, até a contemporaneidade, o que nos impacta agora. Mas é também uma história universal, sobre um indivíduo, seus sentimentos e pensamentos, uma história de alegria, dor e busca pela felicidade – explica a atriz-musicista. – Não nos consideramos uma banda política nem uma banda feminista, embora a política esteja refletida no espetáculo, e ele também fale sobre a mulher moderna, que pode escolher o que quer ser. Mas é algo que acontece naturalmente, não é um propósito.
A mensagem do espetáculo é transmitida em várias línguas diferentes – as letras são cantadas em ucraniano, inglês, alemão e francês e são traduzidas para o público – e partem de autores como Taras Shevchenko, William Shakespeare, Joseph Brodsky e Charles Bukowski. Atuando, rindo, gritando, dançando e tocando diferentes instrumentos, as artistas transformam o show num ritual:
– Estamos tentando nos aproximar dos espectadores e nos conectar com eles, viver algo junto. Ao final, vivenciamos uma espécie de renascimento – compara Tanya.
Dakh Daughters Band – Freak Cabaret
- Espetáculo de abertura do 26º Porto Alegre em Cena.
- Terça-feira (10/9), às 21h.
- Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº).
- Duração: 90 min.
- Recomendação etária: 10 anos.
- Ingressos esgotados.