Um texto, dois espetáculos. É com essa proposta que o projeto Transit, do Instituto Goethe de Porto Alegre, chega à segunda edição. Desta vez, Patrícia Fagundes (Cia. Rústica) e Lucca Simas (Grupojogo) assinam montagens paralelas da peça Tremor, da jovem dramaturga alemã Maria Milisavljevic.
O texto multifacetado de Maria ganhou versões que filtram referências locais, como citações irônicas à política alemã, preservando os elementos que ecoam a realidade próxima dos espectadores brasileiros. A versão de Patrícia tem sessões nesta quinta (17/5) e sexta (18/5), às 20h, e a de Simas será apresentada nos dias 22 e 23 de maio, ambas no Teatro do Instituto Goethe, dentro da programação do 13º Festival Palco Giratório Sesc/POA. O processo de criação dos trabalhos foi acompanhado pelos editores do site Agora Crítica Teatral, que participarão de uma mesa-redonda no dia 26 com a presença da autora alemã, dos diretores e do crítico Valmir Santos (veja quadro abaixo).
As duas companhias teatrais tiveram como ponto de partida uma matéria-prima desafiadora: Tremor é um texto sem indicação de personagens que pode ser adaptado ao número de intérpretes que os diretores julgarem apropriado. Os relatos e impressões, que não contam uma história única, compõem um ambicioso painel com referências que vão da cultura erudita ao entretenimento de massa: William Blake, Os Simpsons, Minecraft, Playstation. Sobre a montagem da Cia. Rústica, Patrícia Fagundes observa:
– Tremor reflete a turbulência política e social dos últimos tempos, no país e no mundo, que nos atropela em sua velocidade e violência. Como podemos narrar nossa história, nosso tempo, nosso mundo? O teatro é um lugar onde tudo é possível, devorado, recriado. Um espaço onde podemos nos encontrar e repensar, onde discutimos e reinventamos nossa história. Pensar o passado para perceber o presente e imaginar outros futuros.
A Cia. Rústica, que completa 14 anos de atividade, terá no palco os intérpretes Priscilla Colombi, Lauro Fagundes e Evandro Soldatelli, além de participações de Ander Belotto e da própria Patrícia. Fazendo referência à antropofagia, a diretora afirma que o texto passou por um processo de "canibalização":
– Canibalizar, ou apropriar e reinventar antropofagicamente, é simultaneamente um conceito e um procedimento importante para pensar dinâmicas de globalização, pós-modernidade e descolonização. A encenação devora e celebra a teatralidade ao apoiar-se no jogo entre artistas e espectadores, na possibilidade da composição compartilhada de mundos. Engrenagens expostas, do mundo e da cena, jogo revelado, ossos rasgando a carne. Valoriza-se a palavra sem deixar de explorar corporeidades intensificadas e vibrantes, uma cena festiva e corpórea.
Sem descartar o conteúdo político da peça, Lucca Simas ressalta na montagem do Grupojogo sua ressonância com a realidade virtual na vida contemporânea, "com suas problematizações e disputas de poder":
– Destaco o papel desse virtual e do que se torna real em nossa relações a partir dele. Binarismos em ascensão e o mundo com cada vez mais falta de empatia, no qual nos perdemos em selfies, postagens no Facebook e Instagram, fake news etc. Como achar pistas para um humanitarismo das relações? Para esta pergunta não tenho resposta e nem o texto dá; porém, torna-se uma provocação para pensarmos juntos, simbólica, afetiva e politicamente.
Conhecido na cena gaúcha pelos espetáculos dirigidos por Alexandre Dill, o Grupojogo completa 11 anos com a estreia de Simas na direção teatral profissional. Levando à cena os intérpretes Manu Menezes, Louise Pierosan, Gustavo Susin e Lucas Prado, o trabalho parte de uma pesquisa acadêmica de cinco anos do diretor sobre biopoéticas teatrais, cujo princípio é apresentar os atores com suas próprias histórias, relacionando-se com a plateia como pessoas.
– É um encontro entre pessoas para refletir, provocar, problematizar, se olhar, interagir, se emocionar, se colocar no papel do outro. Esta interação não se dá somente pela palavra, ela também dialoga com o imaginário, o afetivo, o cinestésico.
Projeto Transit no 13º Festival Palco Giratório Sesc/POA
"TREMOR", DA CIA. RÚSTICA
Nesta quinta (17/5) e sexta (18/5), às 20h.
"TREMOR", DO GRUPOJOGO
Dias 22 e 23 de maio, às 20h.
DEBATE
Dia 23 de maio, após o espetáculo, com a autora Maria Milisavljevic, os diretores Patrícia Fagundes e Lucca Simas, os editores do site Agora, Michele Rolim e Renato Mendonça, e o crítico Valmir Santos.
Os espetáculos e o debate serão no Teatro do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112).
Ingressos à venda em todas as unidades do Sesc no Estado e pelo site sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Em Porto Alegre, o atendimento presencial é no Sesc Centro, de segunda a sexta, das 8h às 19h45min (até as 13h para a apresentação do dia), e aos sábados, das 8h às 13h.
Os ingressos disponíveis serão vendidos também na bilheteria de cada local de espetáculo, uma hora antes do início da sessão.
Os ingressos custam R$ 10 (comerciários com Cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público em geral).
Veja a programação completa em sesc-rs.com.br/palcogiratorio.