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Dilmar Messias entra em uma das salas de reunião do Multipalco Theatro São Pedro e, orgulhoso, vai entregando para o repórter e o fotógrafo de Zero Hora exemplares de seu livro Pão & Circo (Libretos). O volume é uma reunião de roteiros para picadeiro lançada em 2014, que, no ano seguinte, ganhou o Prêmio Livro do Ano da Associação Gaúcha de Escritores na categoria não ficção. Messias tem especial apreço por esse trabalho porque os textos para circo são tradicionalmente transmitidos oralmente – daí a importância do registro.
Releia:
Em 2013, Dilmar Messias foi padrinho do Porto Alegre Em Cena
Em 2015, o Circo Girassol foi homenageado no Festival Palco Giratório
O diretor, dramaturgo e ator do Circo Girassol e diretor artístico do Theatro São Pedro não pretende parar por aí. Quer publicar, ainda este ano, um livro com sua trilogia de palhaços para o público infantil: Serragem, Farinha e Farofa (1987), As Aventuras do Avião Vermelho (1994) e O Hipnotizador de Jacarés (2006). Para quem perdeu, O Hipnotizador... retorna a cartaz neste Porto Verão Alegre, com sessões neste sábado (4/2) e domingo (5/2) no Teatro Novo DC. Também está na programação da mostra o espetáculo circense Misto-Quente, para adultos, desta sexta (3/2) a domingo (5/2), no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa.
Os dois espetáculos do repertório do Circo Girassol celebram os 50 anos de carreira de Messias, contados a partir de sua primeira aparição em cena, na opereta A Casta Suzana (1967). Na ocasião, chegou mostrando talento: representou, dançou e cantou. Este artista com longo currículo de serviços prestados ao circo e ao teatro confessa que experimenta o aniversário de cinco décadas de trabalho com uma mistura de satisfação por tudo o que realizou e apreensão com a situação dos artistas no contexto brasileiro.
– Não posso dizer que a sensação é de cansaço – pondera. – Tem uma certa dose de prazer nisso tudo: olhar para trás e ter um monte de histórias para lembrar e contar. Infelizmente, fazer 50 anos de carreira no momento que estamos vivendo, em que está cada vez mais difícil fazer teatro, é um pouco melancólico. Vivemos um momento de casas fechadas. Mas, na verdade, estamos acostumados a vencer reveses. Nossa trajetória de artistas de teatro, de artesãos em um tempo de alta tecnologia, se mantém.
Messias, 68 anos, viveu muitas crises no Brasil, a começar pela ditadura militar que vigorava quando iniciou sua trajetória, mas garante que nunca se está preparado para a próxima:
– É sempre como se enfrentássemos pela primeira vez, porque as crises são diferentes. Hoje, vivemos uma grande censura econômica. Antes, vivíamos uma censura de Estado. É difícil superar, e acho que isso dá a dimensão da nossa tarefa.
Mas ele é incansável. Deveria ter entrado em férias um dia antes de receber a reportagem de Zero Hora, mas retornou ao São Pedro porque tinha assuntos para resolver. Em novembro, foi submetido a uma cirurgia cardíaca e, duas semanas depois, já estava participando de reuniões em sua casa. Enquanto realiza suas atividades no Theatro, acompanha pelo celular os ensaios do Circo Girassol em tempo real por meio de uma câmera instalada na sede, que fica no bairro Bom Jesus – e ainda recebe consultas dos artistas da companhia pelo WhatsApp.
Seu próximo espetáculo, Os Palhaços de Tchékhov, ainda sem data de estreia, será uma releitura das peças curtas do escritor e dramaturgo russo sob a perspectiva do teatro popular. Na época em que cursava o Centro de Arte Dramática (hoje Departamento de Arte Dramática da UFRGS), Messias encenou Um Pedido de Casamento, do mesmo autor. Mas garante que sempre teve mais paixão pelo teatro popular do que pelo grande teatro. Será seu retorno à encenação: as mais recentes, Brinco de Princesa e Chocola'j, estrearam em 2015 no Festival Palco Giratório Sesc/POA, celebrando os 15 anos do Circo Girassol.
Iniciando seu terceiro ano na direção artística do São Pedro, Messias comemora os cerca de 150 pedidos de pauta para o nobre palco da Capital em 2017, mas admite que gostaria de ter desenvolvido mais trabalhos formativos. O que o impediu?
– A situação econômica do país – responde. – Para desenvolver projetos, precisamos de apoios. O governo (estadual) mantém o teatro funcionando, mas os projetos em si temos que ir atrás. Essa realidade também está sendo vivida na prefeitura. Só se fala em buscar patrocínios. Mas os patrocinadores estão retraídos.
Para viabilizar os projetos neste ano, o diretor artístico pretende apostar no trabalho colaborativo. Acredita que isso confere um senso de pertencimento aos artistas envolvidos, como ocorreu em 2016 com o festival de dança Gestos Contemporâneos. Ele adianta que a segunda edição está agendada para novembro deste ano:
– O Gestos Contemporâneos foi um trabalho extremamente bem-sucedido porque os bailarinos, as companhias e o Sesc nos acompanharam. Não tivemos patrocínio e fizemos uma semana de dança contemporânea. Temos uma série de projetos que queremos implementar: de circo, teatro, teatro de bonecos, música popular.
MISTO-QUENTE
Desta sexta (3/2) a domingo (5/2), às 21h.
Teatro da Santa Casa (Independência, 75), fone (51) 3214-8255, em Porto Alegre.
Ingressos antecipados: R$ 30 (inteira), R$ 24 (Clube do Assinante e acompanhante), R$ 20 (meia-entrada). Ingressos na hora, no teatro: R$ 40 (inteira), R$ 32 (Clube do Assinante e acompanhante) e R$ 20 (meia-entrada).
O HIPNOTIZADOR DE JACARÉS
Neste sábado (4/2) e domingo (5/2), às 17h
Teatro Novo DC no DC Shopping (Rua Frederico Mentz, 1.561, Prédio D), fone (51) 3374-7322, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20.
Os ingressos antecipados para os espetáculos do Porto Verão Alegre estão à venda no Praia de Belas Shopping (terceiro andar) desta quinta a sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 13h às 19h; no DC Shopping (Casarão Verde, loja 133), nesta quinta e sexta, das 10h às 19h; na Multisom do Iguatemi (térreo), desta quinta a sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 14h às 20h; e na Multisom do Centro (Rua dos Andradas, 1.001) nesta quinta e sexta, das 9h às 18h, e sábado, das 9h às 14h.