Uma pessoa abre mão de um importante princípio de seu ofício por pressão de uma poderosa organização que deseja impor outro ponto de vista. A trama parece familiar na atualidade? Pois é essa a identificação que a atriz Denise Fraga deseja provocar no público ao encenar a peça Galileu Galilei, sobre o célebre astrônomo italiano (1564 – 1642) que confirmou a tese de Copérnico segundo a qual a Terra gira em torno do Sol, contrariando a Igreja Católica. A história é conhecida dos livros de história, não há spoilers aqui: ameaçado em vida, Copérnico renuncia à tese e passa a viver em reclusão, mas suas ideias permanecem até hoje.
Identificação é uma palavra tida como proibida em se tratando de Bertolt Brecht (1898 – 1956), o revolucionário dramaturgo alemão que escreveu a peça baseada no personagem histórico. Seguindo a teoria que ele mesmo desenvolveu, estudiosos propugnam que se deve buscar o contrário: um distanciamento que provoque a reflexão crítica dos espectadores em relação à trama que se passa no palco. Mas Denise não tem medo de teorias. Ela encontrou outra máxima de Brecht para orientar esta montagem: divertir para comunicar.
Por isso, Galileu Galilei é um espetáculo que entretém e faz rir, apesar de tratar de um tema sério. Depois de ser apresentado em setembro de 2015 no Porto Alegre Em Cena, o trabalho retorna para novas sessões na Capital desta sexta (24/6) a domingo (26/6) no Theatro São Pedro (com sessão extra anunciada para sábado, 25/6, às 17h).
– Brecht escreve com ironia o tempo inteiro – explica a atriz, que vive o personagem-título. – Ele está atiçando a inteligência do espectador, pois você não ri do que não entende. Quando há reação da plateia, significa que a ideia foi passada. É como ter um recibo da compreensão da piada.
A peça é chamada originalmente de A vida de Galileu. O título Galileu Galilei é tomado de empréstimo da histórica versão que o Teatro Oficina estreou em 1968, no dia em que foi decretado o Ato Institucional nº 5. Por sinal, a direção da montagem que retorna agora à Capital é de Cibele Forjaz, encenadora de longa trajetória no grupo de Zé Celso Martinez Corrêa. Mas os contextos distanciam os dois espetáculos. Enquanto o do Oficina marcava uma resistência ao autoritarismo da ditadura que iniciava seu período mais duro, a versão estrelada por Denise alude ao drama da vida moderna no capitalismo: as concessões que fazemos diariamente para manter nossos empregos e para pagar as contas.
– Estou comprovando novamente a força e a popularidade desse autor em que tanto acredito – afirma Denise, que já havia montado A alma boa de Setsuan, apresentada em Porto Alegre em 2009. – Alguns montam suas peças de forma muito sisuda, mas ele era um artista de cabaré e o que mais queria era comunicar.
Denise voltará a participar de uma novela no próximo folhetim das nove, A lei do amor, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari (ela estará nos primeiros quatro capítulos). No final do ano, começará a pré-produção da nova temporada de 3 Teresas, do GNT. E, no teatro, deseja voltar mais uma vez a Brecht, mas acredita que não será no próximo projeto:
– Não quero ser uma atriz que só monta Brecht. No entanto, ele fala muito à minha alma, especialmente montado dessa maneira que estamos fazendo.
GALILEU GALILEI
Sexta-feira (24/6), às 21h; sábado (25/6), às 17h (sessão extra) e às 20h; e domingo (26/6), às 18h. Duração: 130 minutos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 40 (galeria), R$ 50 (camarote lateral), R$ 60 (camarote central) e R$ 70 (plateia e cadeira extra).
À venda na bilheteria do teatro (hoje, das 13h até o início da sessão, e sábado e domingo, das 15h até o início da sessão) e pelo site compreingressos.com. Desconto de 50% para sócio e acompanhante do Clube do Assinante.