“A arte existe porque a vida não basta”. A frase do poeta brasileiro, Ferreira Gullar, ressoa através das novas interpretações de histórias que nasceram nas páginas dos livros e que ganharam vida no cinema. A vitória da atriz Fernanda Torres no Globo de Ouro de 2024, junto com o lançamento do novo filme ‘O Auto da Compadecida 2’ tem gerado uma agitação na cena cultural, deixando os leitores fervorosos para a conhecer as obras que inspiraram as produções audiovisuais.
A força da arte, seja nas palavras ou nas telas, continua a mover o público e impulsionar a indústria cultural. Em levantamento divulgado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), fica claro que em 2024, o setor cinematográfico bateu um novo recorde: 3.509 salas em funcionamento — 31 a mais do que o registrado em 2019, antes da pandemia. Para você acompanhar este movimento na leitura de livros nacionais, confira10 livros brasileiros que viraram filmes premiados.
Publicado em 1997 pelo autor Paulo Lins, Cidade de Deus narra a realidade de jovens crescendo em uma comunidade marcada pela desigualdade social no Rio de Janeiro. O filme, lançado em 2002 e dirigido por Fernando Meirelles, acompanha a trajetória de Buscapé, um fotógrafo que tenta escapar desse ciclo, e Zé Pequeno, que busca dominar o crime local. Reconhecido mundialmente, foi indicado a quatro Oscars em 2004, incluindo Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado, e ganhou o BAFTA de Melhor Edição no mesmo ano.
O romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, é um retrato da infância roubada, onde um grupo de meninos de rua luta pela sobrevivência no centro de Salvador. Os personagens, cheios de coragem e sonhos, são também vítimas de um sistema que os marginaliza. A narrativa, tanto no livro quanto no filme (2011), leva a uma viagem profunda pela psique desses jovens, revelando os dilemas entre a inocência perdida e a brutalidade da vida nas ruas. A adaptação cinematográfica, dirigida por Cecília Amado, traz à tona a tensão emocional entre o desejo de liberdade e os caminhos sombrios do destino, fazendo com que a produção levasse o Kikito de Melhor Roteiro no Festival de Gramado em 2011.
Baseado na peça teatral homônima de Ariano Suassuna, escrita em 1955, a história acompanha João Grilo e Chicó, dois amigos do sertão nordestino que enfrentam os desafios da vida com inteligência e bom humor. A trama combina elementos da cultura nordestina, do catolicismo e do folclore, culminando em um julgamento no céu. A versão cinematográfica de 2000, dirigida por Guel Arraes, conquistou o público com sua mistura de humor e crítica social, recebendo o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2001 e o prêmio de Melhor Filme no Festival de Miami no mesmo ano.
A obra de Érico Veríssimo é uma verdadeira saga da luta de uma família contra os desafios da história do Rio Grande do Sul. O Tempo e o Vento não só narra os conflitos territoriais e a formação de um estado, mas também captura as complexidades emocionais e psicológicas de seus protagonistas como o amor, a perda e o poder. A adaptação de Jayme Monjardim em 2013 mergulha profundamente nas emoções da família Terra Cambará, trazendo à tona os conflitos internos e os dilemas de suas escolhas. A produção conquistou prêmios como o de Melhor Direção de Arte no Festival de Brasília de 2013.
Em Vidas Secas, Graciliano Ramos não apenas descreve as adversidades físicas da seca, mas também mergulha na alma humana, revelando as dores silenciosas e as batalhas psicológicas de uma família que tenta sobreviver em um cenário desolador. O filme de Nelson Pereira dos Santos (1963) transmite com intensidade as tensões internas dos personagens, como a resignação de Fabiano, o sofrimento de Sinha Vitória e a busca de liberdade de seus filhos. A narrativa é marcada pelo silêncio, pelo cansaço, e pela luta incansável pela dignidade em meio à opressão. A adaptação venceu o Prêmio da Organização Católica Internacional de Cinema (OCIC) no Festival de Cannes em 1964.
O livro que inspirou o filme, "Que Horas Ela Volta?" — sendo o título original do conto: "Val" — foi escrito por Anna Muylaert como uma maneira de explorar e dar voz à realidade das empregadas domésticas no Brasil. A obra gerou discussões importantes sobre a desigualdade social, sendo elogiada por sua narrativa sensível e crítica. Seu impacto foi ampliado pelo filme lançado em 2015, que conquistou o Prêmio do Júri na mostra World Cinema Dramatic no Festival de Sundance de 2015 e o Prêmio Panorama do Público no Festival de Berlim no mesmo ano, reafirmando o poder transformador dessa história.
Publicado em 1899 por Machado de Assis, Dom Casmurro é uma das obras mais emblemáticas da literatura brasileira, narrando a história de Bentinho e sua eterna dúvida sobre a fidelidade de Capitu. A adaptação Dom (2003), dirigida por Moacyr Góes, atualiza a trama para o Brasil contemporâneo, mantendo o debate intrigante sobre os personagens. O filme foi premiado no Festival de Brasília em 2004 como Melhor Figurino.
O livro "Estação Carandiru", de Drauzio Varella, lançado em 1999, é um marco da literatura brasileira contemporânea. Baseado em relatos reais de sua experiência como médico voluntário no maior presídio da América Latina, a obra foi amplamente elogiada por sua honestidade e pela forma humana como retratou os detentos. O impacto literário foi imediato, conquistando leitores e críticos, além de vencer o Prêmio Jabuti de Reportagem em 2000. A adaptação no audiovisual feita por Hector Babenco em 2003, manteve a essência dos relatos da obra literária, alcançando prêmios como Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival de Havana em 2003 e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2004.
O romance "Ainda Estou Aqui", de Marcelo Rubens Paiva, publicado em 2015, é uma obra que aborda temas como luto, superação e resiliência. O livro foi aclamado pela crítica por sua narrativa intimista e pela maneira sensível com que explora os desafios humanos em meio à dor. Além de conquistar leitores, a obra foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria Romance. A adaptação cinematográfica de 2024, dirigida por Karim Aïnouz, recentemente levou a atriz Fernanda Torres ao prêmio de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro 2025.