
Cinco homens foram mortos em uma operação da Polícia Civil na Ladeira dos Tabajaras, na zona sul do Rio de Janeiro, na terça-feira (15). Um deles foi denunciado por Joana Zeferino da Paz, a idosa que inspirou o filme Vitória (2025), estrelado por Fernanda Montenegro.
A operação tinha como objetivo capturar os envolvidos na morte do policial civil João Pedro Marquini, assassinado em uma tentativa de assalto na Grota Funda, no fim de março. Marquini era casado com a juíza Tula Mello.
Conhecido como "Marmitão", William do Amaral Gomes era um dos líderes do tráfico de drogas na favela que divide os bairros de Botafogo e Copacabana, segundo o g1.
Quem era Vitória?
Joana Zeferino da Paz se tornou conhecida como Dona Vitória nos anos 2000, após entregar à polícia uma sacola com oito fitas VHS que reuniam dois anos de gravações feitas da janela de seu apartamento na Praça Vereador Rocha Leão, em Copacabana.

O material registrava o cotidiano do tráfico na Ladeira dos Tabajaras e foi decisivo para a prisão de mais de 30 pessoas, entre criminosos e policiais militares acusados de omissão e corrupção.
As gravações foram feitas após um coronel da PM, em processo judicial, afirmar que não havia atividade criminosa no local. Joana, que havia entrado com uma ação por desvalorização do imóvel, decidiu provar o contrário.
Por segurança, foi incluída no Programa de Proteção à Testemunha e passou a viver sob identidade protegida até a morte, em fevereiro de 2023, aos 97 anos, após um acidente vascular cerebral (AVC).
A verdadeira identidade de Dona Vitória só foi revelada após sua morte, em obituário assinado pelo jornalista Fábio Gusmão, que havia publicado a reportagem original no jornal Extra em 2005.
Filme estrelado por Fernanda Montenegro
A história da aposentada alagoana inspirou o filme Vitória, lançado em março de 2025 nos cinemas e no Globoplay. Dirigido por Andrucha Waddington, o longa foi idealizado por Breno Silveira e protagonizado por Fernanda Montenegro.

Na obra, a personagem é chamada de Dona Nina para preservar a identidade da verdadeira denunciante. Isso porque as filmagens começaram em 2022, um ano antes da morte de Joana.
A escolha de Fernanda Montenegro ainda gerou discussões sobre representatividade, já que Joana era uma mulher negra. Segundo a produção, a decisão visava preservar o anonimato da personagem real.
Livro relançado em 2024
Em 2024, Gusmão relançou o livro Dona Vitória Joana da Paz, pela Editora Planeta, com novas informações sobre a trajetória de Joana.
A publicação detalha não somente o impacto da denúncia que expôs o crime organizado, mas também os anos vividos em sigilo absoluto para preservar sua vida.
"Quando ela parte, infelizmente, a história dela, o legado e os ensinamentos merecem ter o crédito: quem era aquela mulher forte, quem era Joana Zeferino da Paz", escreveu o jornalista ao anunciar a nova edição.
Operação na Ladeira dos Tabajaras

Segundo a Polícia Civil, Marmitão era tio de outro criminoso morto na mesma ação: Vinicius Kleber Di Carlantonio Martins, conhecido como Cheio de Ódio.
Quatro pessoas foram presas, entre elas Antônio Augusto D'Angelo da Fonseca, apontado como um dos autores do latrocínio de João Pedro Marquini. Ele foi encontrado no apartamento da própria mãe.
O Morro do Tabajaras é uma favela localizada no morro que separa os bairros de Botafogo e Copacabana, com acessos por vias movimentadas dessas regiões.
Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e da Core cercaram a área, com apoio de um helicóptero. Durante a operação, traficantes reagiram com tiros.
Morte do policial
Na noite de 30 de março, João Pedro Marquini e a esposa, a juíza Tula Mello, retornavam de Campo Grande, na zona oeste do Rio, em veículos separados. Pouco antes, Marquini havia ido com a mulher, no Outlander dela, buscar seu Sandero, que estava em uma oficina.
Ao ver o trânsito parado no Túnel da Grota Funda, o casal optou por seguir pela Serra. Marquini seguia à frente no Sandero, com Tula logo atrás. Em uma curva, bandidos que bloqueavam a pista abordaram o veículo da juíza.
Marquini percebeu a ação e chegou a ligar para um amigo, deixando o celular no viva-voz. Tula tentou dar ré, mas os criminosos começaram a atirar.
O agente saiu do carro armado, mas não chegou a atirar — foi atingido por cinco disparos de fuzil. O veículo da juíza foi alvejado três vezes, mas, por ser blindado, Tula não se feriu.