O cinema mundial está de luto com a despedida de David Lynch, que morreu nesta quinta-feira (16), aos 78 anos. E entre as mais curiosas histórias do diretor, responsável por clássicos eternos do audiovisual, como Twin Peaks e Cidade dos Sonhos, uma é totalmente ligada aos gaúchos.
Era 11 de agosto de 2008 e, no Salão de Atos da UFRGS, ocorria mais uma edição do Fronteiras do Pensamento. Entre os conferencistas, estava o cineasta norte-americano — que, curiosamente, decidiu que o seu foco não seria o cinema, mas, sim, a felicidade que encontrou graças à meditação transcendental.
Mas, claro, a participação de Lynch foi um grande acontecimento na Capital, reunindo cinéfilos sedentos por chegar perto do ídolo, querendo eternizar o momento em uma foto ou um autógrafo. Filas se formaram e a plateia prestou reverência ao cineasta. Foi a conferência mais concorrida do Fronteiras do Pensamento de 2008.
Antes da realização do evento, entretanto, houve uma coletiva de imprensa, na qual, ao término, Lynch foi cercado por jornalistas e curiosos que se aglomeravam na sala de um hotel de Porto Alegre. O diretor atendeu pacientemente a todos, com a calma que adquiriu desde que aprendeu a técnica de meditação transcendental — tema principal de seu seminário.
— Meditar te leva a um nível superior, acima do intelecto, no qual a felicidade, o pensamento positivo e, por consequência, a criatividade artística, são infinitas. Você fica inabalável — disse Lynch, na ocasião, destacando que a sua descoberta ajudaria até mesmo na falta de criatividade de Hollywood: — Há muitas refilmagens hoje em dia. O pessoal não está sendo muito criativo. Deveriam praticar mais a meditação transcendental.
Ainda no Lynch Day RS, há registros de 2008 que mostram o músico Thedy Corrêa, da banda Nenhum de Nós, pegando autógrafo de Lynch e, também, de um encontro com a diretoria da Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs), que havia sido criada há pouco tempo.
A crítica e professora universitária Ivonete Pinto, primeira presidente da Accirs, entregou um diploma a Lynch, uma vez que seu filme Império dos Sonhos (2006) foi eleito pelos jornalistas como melhor longa estrangeiro exibido no circuito local no ano anterior. Relato de Roger Lerina para a Zero Hora recorda que o cineasta ficou "genuinamente emocionado com a modesta premiação gaúcha".
Mas se os cinéfilos do Estado ficaram totalmente alvoroçados com a presença de Lynch em terras gaúchas, alguns foram além e conseguiram, até mesmo, fazer um curta-metragem com o diretor, que participou da obra como ator.
A produção se chama Peixe Vermelho e foi comandada por Andreia Vigo, que ainda roteirizou, produziu e realizou a direção de arte do título, vencedor de quatro prêmios no 38º Festival de Cinema de Gramado.