A Agência Nacional de Cinema, a Ancine, negou dois recursos encaminhados pela produtora O2 Filmes em relação a Marighella, cinebiografia do guerrilheiro homônimo dirigida por Wagner Moura. As decisões foram tomadas por unanimidade pela diretoria colegiada do órgão na última terça-feira (27), segundo deliberação publicada no mesmo dia.
Um dos recursos negados se referia ao pedido de ressarcimento de despesas pagas com dinheiro da produtora no valor de mais de R$ 1 milhão, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
Em nota, a O2 afirma que apenas pediu que a Ancine esclarecesse se essa quantia se adequava a um edital de complementação do FSA, o que foi negado pela diretoria da agência. O segundo recurso questionava se a verba para comercialização do filme poderia ser adiantada.
Segundo a produtora, o FSA pode optar por investir na etapa de comercialização no caso de obras realizadas com recursos do fundo. Como o contrato referente a esse investimento estava demorando a ser finalizado, a produtora pediu que a verba fosse liberada antes de sua assinatura efetiva. Também este requerimento foi recusado.
Ainda em nota, a O2 afirma que os pedidos analisados pela Ancine "estão dentro da estrita legalidade".
A negação de recursos foi comemorada por Carlos Bolsonaro, filho do meio do presidente Jair Bolsonaro. No Twitter, ele escreveu: "Noutros tempos, o desfecho seria outro, certamente com prejuízo aos cofres públicos".
A declaração de Carlos Bolsonaro acontece em um momento em que o governo busca estabelecer mais controle sobre a Ancine. O presidente inclusive afirmou que pretendia extinguir a agência caso não pudesse implantar um "filtro de conteúdo" — intenção encarada como censura pelo setor.
Marighella estreou sob aplausos no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Inspirada na biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães, a produção de R$ 10 milhões acompanha os últimos cinco anos de vida do guerrilheiro, do golpe militar de 1964 ao seu assassinato, em 1969.
O filme está previsto para estrear no Brasil em 20 de novembro. A demora foi criticada pelo biógrafo do guerrilheiro, que nas redes sociais afirmou que a obra poderia estar sendo alvo de "obscurantismo dos novos censores". A assessoria da Paris Filme, distribuidora do longa, negou, no entanto, que ele tenha sofrido qualquer tipo de pressão política.
O longa foi rodado no começo do ano passado, antes da eleição de Bolsonaro. No lançamento, em Berlim, Moura disse que não teria feito nada de diferente caso soubesse que o atual presidente seria eleito.
— Já vivíamos um momento conservador — disse.