*O repórter viajou a convite da organização dos Premios Platino del Cine Iberoamericano
O ator argentino Ricardo Darín e o filme colombiano O abraço da serpente, de Ciro Guerra, foram os grandes destaques da 3ª edição dos Premios Platino del Cine Iberoamericano, neste domingo, em Punta del Este (Uruguai). Em noite de gala, que avançou a madrugada de segunda-feira, o "Oscar ibero-americano" homenageou Darín e consagrou o espetacular épico amazônico de Guerra, vencedor de sete dos 11 troféus entregues pelo júri oficial – ótimos longas, como o chileno O clube, de Pablo Larraín, e os argentinos O clã, de Pablo Trapero, e Paulina, de Santiago Mitre, ficaram com um único prêmio cada.
Uma das poucas menções ao cinema brasileiro foi também o momento de maior contundência politica da cerimônia. Inexplicavelmente esquecido entre os indicados, o longa-metragem Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, acabou eleito para receber o Troféu Cinema de Educação e Valores, entregue pela Nobel da Paz Rigoberta Menchú. Ao erguer a honraria, a atriz Karine Teles bradou "Fora, Temer", sendo muito aplaudida pela plateia formada em sua maioria por pessoas da América hispânica. Depois, fez um discurso inflamado:
– Dedico este prêmio às mulheres que lutam para contar histórias do nosso ponto de vista neste mundo machista cujas histórias ainda são contadas, em sua maioria, pelos homens.
Com passagem discreta pelo circuito de cinemas do Brasil, O abraço da serpente tem trama baseada nos relatos reais de dois exploradores, um alemão e outro norte-americano, que se embrenharam na floresta tropical na primeira metade do século passado em busca de uma lendária planta com poderes medicinais. Foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o que rendeu ao seu diretor um convite para integrar a Academia de Hollywood.
– Estou desfrutando de tudo o que está acontecendo, que é muito surpreendente – disse Ciro Guerra a ZH na véspera da premiação, em encontro dos indicados com a imprensa. – Temos muito o que aprender com Hollywood, sobretudo no que diz respeito à promoção dos filmes. Já me enviaram vários projetos dos EUA, mas por enquanto não me interessei por nenhum. Estou focado em um longa de ficção científica que vou rodar na Colômbia. O que virá depois disso ainda não sei, estou aberto a todos os tipos de projeto.
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Tudo nos Premios Platino lembra o Oscar: as piadas dos apresentadores, a autorreferência à indústria e aos estereótipos que ela cultua, a aura kitsch da festa e uma ideia de grandiosidade plenamente incorporada pelos anfitriões uruguaios, que aproveitaram a cerimônia para inaugurar o colossal Centro de Convenções de Punta del Este – depois de ser realizado na Cidade do Panamá e em Marbella, a 4ª edição dos Premios Platino voltará à Espanha, mais precisamente a Madri, em 2017.
Os espectadores que acompanharam a cerimônia deste domingo – organizadores estimam que lares de mais de 600 mil pessoas em quase 50 países puderam ver pela TV – também tiveram a atenção chamada para dois filmes que não devem passar despercebidos: o guatemalteca Ixcanul, de Jayro Bustamente (vencedor do prêmio de melhor longa de diretor estreante), e o chileno O botão de pérola, de Patricio Guzmán (eleito o melhor documentário). O primeiro não tem distribuição prevista para o Brasil, e o segundo só foi lançado por aqui em uma única sala de São Paulo – o CineSesc. Sinal de que um projeto encampado por produtores para chamar a atenção para a qualidade dos títulos ibero-americanos, caso dos Premios Platino, é mais do que pertinente.
– Estamos aqui para apoiar a disseminação do nosso cinema, que é o cinema ibero-americano – discursou Ricardo Darín, ao receber o Platino de Honor ("Platino de Honra"), naquele que foi, como esperado, o momento mais emocionante da noite. – Que não nos sintamos intimidados pela cinematografia hegemônica. Temos talento e grande capacidade técnica em todas as áreas para fazer frente ao desproporcional pressuposto dos estúdios milionários. É só ter confiança em nós mesmos. Quero abraçar todos vocês e desejar que este prêmio tenha um maravilhoso futuro, porque precisamos muito disso – finalizou, ovacionado pelos presentes.
OS PREMIADOS
Melhor filme: O abraço da serpente, de Ciro Guerra (Colômbia)
Melhor direção: Ciro Guerra
Melhor ator: Guillermo Francella, por O clã (de Pablo Trapero, Argentina)
Melhor atriz: Dolores Fonzi, por Paulina (de Santiago Mitre, Argentina)
Melhor roteiro: O clube, de Pablo Larraín (Chile)
Melhor filme de estreante: Ixcanul, de Jayro Bustamante (Guatemala)
Melhor fotografia: O abraço da serpente
Melhor montagem: O abraço da serpente
Melhor direção de arte: O abraço da serpente
Melhor som: O abraço da serpente
Melhor trilha sonora/música: O abraço da serpente
Melhor documentário: O botão de pérola, de Patricio Guzmán (Chile)
Melhor animação: No mundo da lua, de Enrique Gato (Espanha)
Melhor filme/voto popular: Ixcanul
Melhor ator/voto popular: Ricardo Darín, por Truman (de Cesc Gay, Espanha)
Melhor atriz/voto popular: Penélope Cruz, por Ma ma (de Julio Medem, Espanha)
Premio cinema de educação e valores: Que horas ela volta?, de Anna Muylaert (Brasil)
Platino de Honra: Ricardo Darín, ator argentino