O cinema americano tem apresentado com constância bons filmes sobre as complexas engrenagens que movem a roda da especulação financeira arrancando risos e lágrimas de seus apostadores. Recém chegado ao circuito, Jogo do Dinheiro busca combinar o tom crítico e sarcástico de títulos como o há pouco visto A Grande Aposta com elementos do thriller policial e do conto moral. E dinheiro fácil de fonte nebulosa e polícia, como se vê no noticiário, costumam andar lado a lado, ou melhor, com o primeiro tentando driblar os olhos vigilantes da lei.
Não é bem esse o caso aqui. Ótima atriz, Jodie Foster conduz no quarto longa-metragem da sua irregular trajetória como diretora um roteiro ambicioso em sua proposta de juntar o fascínio que o mercado de ações e fundos de investimentos desperta, nos EUA, também entre a população de menor renda com uma trama de vingança que deságua em um acerto de contas nas entranhas de Wall Street. Mas os caminhos que Jogo do Dinheiro percorre exigem muito boa vontade do espectador para não se decepcionar com seu desenrolar.
Drama "A Garota do Livro" denuncia o abuso masculino
Comédia argentina narra encontro de atriz insegura com superastro egocêntrico
Filme gaúcho "Ponto Zero" estreia buscando espaço em circuito hostil
Alice volta ao País das Maravilhas em aventura que desafia o tempo
A ciranda de ganhar e perder milhares ou milhões de dólares na meca universal do capitalismo é representada, no filme, por um bizarro espetáculo de TV. George Clooney incorpora Lee Gates, apresentador histriônico que fez fama dando dicas de investimentos. Para amenizar a aridez do tema e ser didático nas suas provisões, Gates porta-se como um arlequim no picadeiro. Canta, dança e usa recursos audiovisuais de impacto, sensacionalistas até. Clooney, no começo, parece um tanto desconfortável com seu peculiar personagem, mas logo encontra o registro adequado.
O showman tem na sua retaguarda a competente produtora Patty Fenn (Julia Roberts), com quem parece ter uma faísca amorosa reprimida. A dupla entra em cena tentando administrar o estrago na credibilidade do programa provocada pela queda brusca das ações de uma empresa há pouco indicada por Gates como aposta de ganho certo. Muita gente perdeu dinheiro confiando no especialista fanfarrão, entre eles o jovem entregador Kyle Budwell (Jack O’Connell), que acaba de invadir o estúdio em Nova York. De arma em punho, ele obriga o apresentador a vestir um colete com explosivos.
Exigências do rapaz: quer um pedido de desculpas ao vivo e o reconhecimento, por Gates, de que o sistema financeiro é corrompido e programado para enriquecer os ricos e empobrecer os pobres. E também quer ver exposto o real responsável pelo sumiço de suas economias, um magnata escorregadio que sumiu do mapa durante a crise. Tudo ao vivo, pois se o sinal for tirado do ar, manda tudo elos ares.
Em meio a esse discurso crítico, Jogo do Dinheiro mostra maior força. Mantém seu rumo também na pegadas de thriller policial, com o cerco das forças de elite ao prédio de Nova York onde fica o estúdio da emissora e as negociações com o transtornado rapaz. Sem demora, Patty e Gates tomam a linha de frente nessa articulação. Percebem estar diante de um grande potencial de audiência – o episódio ganha cobertura midiática global –e passam a dirigir os movimentos do invasor. Primeiro para salvar a própria pele e, depois, com o genuíno interesse de ajudar o pobre coitado e punir o inescrupuloso dono da corporação que sacudiu o mercado financeiro internacional.
A tensão psicológica e eficiente representação propositalmente caricatural do imbróglio, porém, diluem-se com a necessidade de se apresentar e castigar o vilão, que é dos mais caricatos. Numa implausível mudança de chave, a trama e os personagens rumam para um acerto de contas nas ruas de Wall Street. O humor ácido que permeia o suspense cede lugar ao riso bobo e aos clichês das lições de moral que castigam os malvados nos contos da carochinha.