Os dados da segunda etapa da pesquisa comandada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) sobre a incidência do coronavírus no Estado foram divulgados nesta quarta-feira (29). A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) coordena a pesquisa na cidade do Centro do Rio Grande do Sul, e os índices revelam que a estimativa de pessoas que tiveram contato com a covid-19 na cidade pode ser 10 vezes maior do que o número de casos confirmados pela vigilância em saúde do município, que é de 30.
Conforme a infectologista Marinel Dall'Agnol, do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM e coordenadora da pesquisa em Santa Maria, na última etapa, realizada no final de semana passado, um dos 500 testes deu positivo na cidade. A pessoa que mora junto com essa que testou positivo foi submetida ao exame e também confirmou o contato com o coronavírus. Na primeira etapa da pesquisa, entre os dias 11 e 13 de abril, nenhum dos entrevistados havia testado positivo no município.
A recomendação para ambos é que fiquem em isolamento por pelo menos sete dias, já que o resultado positivo do exame indica que a pessoa teve contato com o vírus há pelo menos uma semana.
A taxa de incidência de pessoas que podem ter sido infectadas no Estado é de uma a cada 769.
— Antes, nós tínhamos, em duas semanas, uma infectada a cada 2 mil pessoas. Agora, é uma a cada 769. Se projetarmos isso para Santa Maria, isso significa que temos 367 pessoas infectadas. Se compararmos com os dados oficiais da vigilância, que são 30, é um número 10 vezes maior — explica Marinel.
A preocupação é para além desse número: essas pessoas possivelmente nem saibam que possam ter o vírus. A consequência é que podem transmiti-lo para outras pessoas, e assim a propagação ganha velocidade.
— O que a pesquisa mostra é que nós temos, provavelmente, 367 casos de pessoas infectadas pelo coronavírus que estão aí pela comunidade, circulando, e que nem sabem. O problema é esse. Alguns estudos mostram que cada pessoa infectada pode passar para mais duas pessoas, então já podem ser outros mais de 1,1 mil circulando entre nós, e aí por diante — avalia.
Por isso, a epidemiologista defende que não deveria haver a flexibilização e que o distanciamento social deveria ser seguido por, pelo menos, mais um mês.
— Não tem sentido se relaxar o distanciamento social no momento em que vemos as curvas da doença aumentando. Aproximar as pessoas agora, aglomerar pessoas nesse momento, é óbvio que é ruim. Não há dados científicos sobre isso, mas se pudéssemos manter esse afastamento mais um mês, vai chegar uma hora que o vírus não vai estar mais circulando na comunidade e poderemos voltar à nossa vida normal — opina.
Outro fato que preocupa, segundo Marinel, é a chegada do frio. Conforme ela, as experiências da Ásia e da Europa mostram que a incidência de casos da covid-19 com o início do inverno podem aumentar.
— A chegada do inverno faz com que as pessoas fiquem mais aglomeradas. No Exterior, o vírus aconteceu no frio, então temos o receio de que essa situação seja favorável para a sua propagação — explica.
A próxima etapa da pesquisa está prevista para ocorrer entre os dias 9 e 11 de maio, quando mais 500 santa-mariense serão entrevistados e testados. Serão 2 mil testes realizados em Santa Maria.