Onde a cidade nasceu. Onde a história reside. Uma das localidades turísticas mais charmosas e obrigatórias de Barcelona, o Bairro Gótico é composto por ruas medievais acanhadas, cafés, restaurantes, igrejas, museus, praças, entre outras atrações, mas, essencialmente, por muita memória em suas paredes.
Trata-se de uma zona para se explorar a pé. Aliás, caminhar pelas ramblas (passeios) ou pelas vielas estreitas da localidade traz a sensação de estar em uma Torre de Babel, pois é comum escutar idiomas além do espanhol ou catalão – ouve-se desde aquele português abrasileirado ao inglês, ao alemão, ao francês, etc. Ou seja, é uma região massivamente turística, com mais visitantes circulando do que locais.
Conhecido em catalão como El Gòtic (“O Gótico”), o bairro integra o distrito de Ciutat Vella e referencia no nome o estilo arquitetônico que predomina em seus prédios. Barcelona foi fundada como uma vila romana, embora povos íberos e gregos já a tivessem habitado previamente. Inicialmente concentrada entre os muros do Bairro Gótico, a cidade foi se expandindo para outros lados. Só que por ali ainda resta muita história para se absorver.
Aliás, com tantos detalhes em cada canto ou parede que podem escapar aos olhos, uma boa pedida pode ser a visita guiada pelo bairro. Cada viela gótica pode conter dezenas de informações seculares.
Confira alguns pontos turísticos para serem visitados no Bairro Gótico.
Catedral de Santa Cruz e Eulália
Com sua estonteante fachada neogótica (além de ser formada por três cúpulas, uma abside e um ambulatório), a Catedral de Barcelona é um símbolo do bairro e da cidade. Embora o local tenha abrigado outros templos anteriormente, a igreja gótica começou a ser construída em 1298, sendo finalizada como conhecemos hoje somente no início do século 20.
A Catedral de Santa Cruz e Santa Eulália (nome oficial em catalão: Catedral de la Santa Creu i Santa Eulàlia) contém em seu interior cadeiras ou coro que remontam aos séculos 14 e 15. Um dos principais tesouros por ali é a Custódia, feita de ouro e prata e adornada com joias.
Dentro das capelas, há pinturas góticas que compõem retábulos. Uma das obras-primas a serem contempladas é A Transfiguração de Cristo, de 1452, de Bernat Martorell.
No altar-mor, está a cripta de Santa Eulália, uma das padroeiras de Barcelona. Ela divide o posto com Mare de Deu de la Mercè, cuja festa toma as ruas da cidade em setembro. Como o período costuma ser chuvoso, uma anedota catalã diz que são lágrimas de Eulália, que não recebe tamanha celebração.
Eulália é uma santa e mártir que viveu na cidade entre os séculos 3 e 4. Por conta da perseguição aos cristãos, ela foi torturada 13 vezes – a sua idade. Há um jardim na catedral onde vivem 13 gansos brancos, cada ave para um dos martírios e anos que viveu Eulália.
Desde o ano passado, a Catedral de Barcelona passa por uma polêmica. Justamente em sua fachada, há um banner enorme com anúncio de celular da Samsung. A reportagem também observou outros dois banners no teto em parte lateral do templo. Os turistas desavisados se abismam. Depois, divertem-se com uma piada bastante recorrente: “Ué, é a igreja da Samsung?”.
A publicidade foi duramente criticada por moradores locais, afinal, é um edifício religioso-histórico e símbolo da cidade. O poder público autorizou os banners, contanto que a empresa pagasse uma taxa, que é revertida em prol da cidade e de obras na própria catedral.
As igrejas Santa Maria
Além da Catedral de Barcelona, é possível vislumbrar pelo bairro outras igrejas com a arquitetura gótica. Uma delas é Santa Maria del Pi. Construída entre os séculos 14 e 15, encanta por sua rosácea da fachada, com cerca de 10 metros de diâmetro. Dispondo de uma boa acústica, é comum o templo receber apresentações musicais, o que também ocorre em Santa María del Mar, que foi erguida pela população no século 14. Apesar de ser mais tímida em glamour, a igreja é alta em seu interior, fazendo os visitantes serem hipnotizados pelo teto.
Plaza de Sant Felip Neri
Praça que conta uma história triste da cidade. Durante a Guerra Civil Espanhola, o local foi bombardeado pelo exército governo franquista, matando até crianças que estavam refugiadas na igreja de Sant Felip Neri. Ainda é possível observar marcas dos ataques nas paredes do templo. Hoje, a realidade do local é outra. Eventualmente, a praça é fechada para atividades esportivas de alunos de uma escola da vizinhança.
El Call
Quarteirão que revive a história de judeus na cidade desde a Idade Média. Por ali, há a pequena Sinagoga Mayor, do século 13, que foi redescoberta nos anos 1990.
Plaça Reial
Remetendo à estética final do século 19, a praça tem seu charme por conta de seus edifícios da época, com cafés, além de ser rodeada de palmeiras e postes de luz modernistas que foram projetados por Gaudí.
Museu Picasso
Situado em uma viela (parece até escondido, turistas podem custar a achar), o museu traz uma profunda coleção do artista visual Pablo Picasso, percorrendo sua vida e obra. A procura é grande, então o jeito é visitar o espaço cedo ou comprar ingresso antecipadamente pelo site oficial do museu: museupicasso.bcn.cat.
Mais museus
Quase em frente ao Museu Picasso, há o Museo de las Culturas del Mundo, expondo obras de todos os cantos. Pelo bairro, vale dar um pulo no Museu Frederic Marès, que traz a formidável coleção de um dos mais renomados escultores espanhóis do século 20. Há também o Museu d’Idees i d’Invents, que reúne invenções criativas e possui um subsolo que é acessado por tobogã. Vale ainda a visita aos espaços do Museu de História, com vestígios da época romana da cidade.
* O repórter viajou a convite da Freixenet Brasil