

Se você estiver em Paris, passeando pela Champs-Élysées durante alguma noite de quinta-feira, terá boas chances de nos ver e ouvir: somos um grupo de 150 corredores que passa pela rua ao ritmo da playlist que estiver sendo tocada, em meio aos movimentos rápidos do pessoal.
Sob a tutela de treinadores certificados que coordenam as corridas e direcionam o tráfego, os corredores da equipe Nike Running France veem um pouco de Paris ao crepúsculo todas as semanas, passando por importantes pontos turísticos, como o Louvre e a Torre Eiffel, correndo pelos túneis do metrô e em frente a clientes confusos nos cafés.
Para os parisienses, o grupo é uma boa forma de praticar um esporte quase sempre solitário e transformá-lo em um acontecimento social.
Para os visitantes, a corrida serve como um passeio turístico gratuito com guia pelas ruas de Paris - ou talvez como desculpa para provar outro éclair.
Depois de confirmar a presença no evento do Facebook, nos encontramos em uma grande loja da Nike na Champs-Élysées, onde o grupo sempre atrai os olhares curiosos de quem passa - o que é compreensível. Os corredores são uma presença impressionante e surpreendente em uma avenida mais conhecida pelas marcas de luxo e pelos turistas endinheirados, do que pelo equipamento esportivo e os tênis de corrida sujos de lama.
Quando a noite começa a cair, iniciamos nossa corrida ao som da música, percorrendo trajetos que vão de 4,8 a 6,4 quilômetros, pontuados pela vista incrível dos monumentos históricos da região, sob a tutela de treinadores pragmáticos.
Depois de passar pelo Sena banhado pela luz da lua, por exemplo, os corredores podem ser instruídos a se sentarem em frente ao Louvre para um série de abdominais, para o deleite de turistas e moradores da região. Nossos corredores podem dar arrancadas pelos degraus do Trocadéro, dividindo a atenção entre as luzes da Torre Eiffel ao longe, e os comandos do treinador, para descer as escadas com mais vigor e rapidez.
Quando me juntei ao grupo Nike Running France em setembro do ano passado, havia deixado de correr, chegando ao auge da fadiga depois de completar uma série de meias-maratonas em Toronto, minha terra natal.
Correr pelas ruas de Paris, para onde me mudei há três anos, renovou meu amor pelo esporte e eu não estou sozinha: meus colegas de corrida são parisienses, estrangeiros e gente que está aqui de passagem; somos confeiteiros, designers gráficos, estudantes, professores, mães e jornalistas.
Por mais improvável que pareça, Paris parece estar ganhando a reputação de paraíso dos corredores.
De acordo com Romain Boutevillain, diretor geral do site de registro de tempos de corrida Top Chrono, que organiza corridas por toda a cidade, o número de registros para uma série de corridas chamada de Paris Running Tour tem crescido constantemente em cerca de 10% ao ano desde que começou entre 2007 e 2008.
Ao longo do ano, os bairros de Paris realizam corridas de 10 quilômetros realizadas para mostrar os "arrondissements", como são conhecidos em francês. Este ano, cerca de 20 mil corredores irão competir em 14 corridas. Recentemente, cerca de 780 corredores exploraram o 19° arrondissement , em uma corrida que os levou das montanhas de Buttes-Chaumont, certamente o parque mais bonito, aos limites do nordeste da cidade, longe dos destinos mais comuns para os turistas. A cidade também deu início a um programa chamado Top Chrono Timepoint, em parceria com a Top Chrono, no qual painéis digitais serão erguidos de três a cinco parques até o fim do ano. Os painéis foram instalados recentemente no Parc Suzanne Lenglen, no 15° arrondissement. Os corredores que comprarem um chip personalizado poderão ver a distância e o progresso nos painéis em tempo real.
O novo sistema tem a intenção de criar uma comunidade de corredores na cidade com a ajuda de uma página no Facebook para encorajar os membros a compartilharem os resultados, organizarem encontros nos parques Timepoint e encontrarem amigos que compartilhem o amor pelo esporte, afirmou Boutevillain.
Corredores mais ocasionais que desejem fazer amizade com pessoas da região ou tomar uma cerveja ou duas ao longo do caminho talvez possam considerar um grupo curioso conhecido com Paris Hash House Harriers, que se encontra a cada 15 dias. Iniciado nos anos 1930 na Malásia por um grupo de britânicos, os Hash House Harriers se dividiram em mais de 2 mil grupos ao redor do planeta.
É assim que funciona: uma "hare", ou lebre, cria um trajeto com uma trilha de farinha do começo ao fim. Os corredores devem seguir as marcas visíveis no chão para completar a rota. Para tornar as coisas ainda mais interessantes, a lebre também cria marcas falsas com setas confusas, forçando os corredores a fazerem meia volta, quando seguem pelo caminho errado.
No começo deste ano, em uma corrida temática no Ano Novo Chinês, os corredores seguiram uma trilha de 12 quilômetros que passava por estacionamentos subterrâneos, shopping centers e a Chinatown no sul de Paris. Quase no fim da corrida, o marcador que estava sendo perseguido pelo grupo apareceu nos arredores do Parc Montsouris - uma parada para a cerveja. Os corredores saíram em busca da cerveja e pararam para descansar, beber um pouco de "bière" e bater papo.
Algumas das corridas mais inovadoras feitas este ano em Paris foram organizadas pela Nike. Para promover a primeira corrida de 10 quilômetros exclusiva para mulheres em Paris, a equipe jovem e criativa da empresa realizou uma série de treinamentos especiais durante o mês de maio, levando 150 corredoras para o alto do Arco do Triunfo; abrindo o tapete vermelho na escadaria da Basílica de Sacré-Coeur para imitar a experiência do Festival de Cinema de Cannes; e trazendo algumas estrelas do rúgbi para encorajar as participantes. Em outro evento da Nike no inverno passado, tendo os telhados de Paris como tema, 150 corredores noturnos foram iluminados com bastões fluorescentes e guirlandas. Chegamos aos andares mais altos de estacionamentos vazios, onde fizemos exercícios de arrancada; no último andar do clube noturno Wanderlust, ao lado do Quai d'Austerlitz, onde fizemos alguns abdominais; e ao teto do Institut du Monde Arabe, onde a escalada ao topo foi recompensada pelas luzes estroboscópicas, a música agitada e as vistas maravilhosas do Sena e da Notre Dame.
Durante o percurso, os treinadores acendiam chamas roxas para anunciar a presença do grupo. Enquanto saíamos do metrô, os corredores foram recebidos com sacos de confete e atravessamos a ponte sobre o Sena enquanto fogos de artifício dos dois lados do grupo iluminavam o céu de Paris.