Na lista das minhas atividades prediletas, duas ocupam lugar de destaque: caminhar e conversar. E suspeito ter encontrado o lugar perfeito para isso, entre as ruas de pedra e os casarões do século 18 que dão forma ao Centro Histórico de Ouro Preto, em Minas Gerais.
Subindo e descendo ladeiras ao lado do guia de turismo José Isabel Silva, 57 anos, que acabou se tornando o meu amigo Zé Isabel, descobri o quanto o povo da cidade é acolhedor e exercitei os sentidos na terra famosa pelo metal dourado das suas entranhas.
A primeira grande experiência envolve o tempo. Por lá, não há passos apressados, e mesmo assim a gente não se atrasa. As conversas se espicham em um bailado tranquilo de palavras, e sempre sobram alguns minutos. Sem peso, sem correria. Um luxo.
Depois de me acostumar com esse novo compasso, as vivências foram riquíssimas. Para qualquer ponto que eu me virasse, o olhar era brindado com as fachadas conservadas das construções, a imponência e a beleza das igrejas e as obras de Aleijadinho.
Perto do horário do almoço, o aroma da couve e da linguiça refogados que vinha das moradias no entorno da Capela do Padre Faria, região que deu origem à cidade e até hoje é um bairro de operários, era um convite ao exercício do olfato e do paladar.
Durante a caminhada, as pedras que cobrem as ruas se fazem sentir até mesmo sob a sola dos calçados, e as paredes frias e grossas das igrejas parecem sussurrar sob a palma da mão.
Caminhando e conversando, descobri que a história de Ouro Preto forma um mosaico e permanece viva para ser conhecida e, sobretudo, sentida.
O charme do Festival de Inverno
Nessa época do ano, quem visita a região tem uma experiência ainda mais rica, em virtude da realização do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana - Fórum das Artes 2013 - Em Tempos Diversos.
Este ano, a programação vai até 28 de julho, com uma série de atividades como apresentações musicais, teatrais, exposições, gastronomia e oficinas artísticas. Envolvida pelo belo cenário e a baixa temperatura, fui surpreendida pela beleza do que senti.
Além de todos os outros sentidos, a audição foi especialmente privilegiada, com espetáculos que incluíram desde Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto até a cultura popular, com a história de Galanga Chico Rei, apresentada no ritmo afro-brasileiro do congado. Uma riqueza cultural que tornou a visita inesquecível e ainda mais emocionante.
O evento é realizado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Clique aqui e confira a programação.
(Eduardo Tropia/PMOP) Ruas de pedra e casarões do século XVIII embelezam o Centro Histórico
Seguindo Zé Isabel
Por meio da simpatia e do conhecimento de Zé Isabel, desvendei a simbologia das igrejas, aprendi a reconhecer as obras de Aleijadinho, ouvi histórias e curiosidades da região, visitei museus, conheci a parte rica e a mais humilde da cidade, bem como a origem de expressões populares.
Um dos passeios mais interessantes que fiz foi a uma das tantas minas locais, a Mina Jeje. Recomendo muito essa experiência, para entender como os mais de 2,8 milhões de escravos que chegaram a Minas Gerais ex- traíam a riqueza do interior da terra.
Dicas da repórter
- No inverno, faz frio mesmo. Durante o dia, se tiver sol, a temperatura sobe, e uma blusa de manga longa é suficiente. Mas, à noite, pode ficar abaixo dos 10ºC, então leve roupas quentes.
- Para quem gosta de comprar suvenires, o artesanato típico é bem diversificado, com artigos em pedra-sabão, madeira, cachaças e joias. A região central tem muitas lojas, para todos os bolsos e estilos.
- Repare nos divertidos nomes das repúblicas onde moram os estudantes da UFOP. Manicômio, Pulgatório e Nau Sem Rumo são alguns exemplos da criatividade dos alunos.
- Fique atento também a um hábito curioso na cidade: as notas de falecimento são impressas em folhetos e coladas nos postes.
*A repórter viajou a convite da Universidade Federal de Ouro Preto