O governo federal liberou a pesca de camarão na Bacia do Rio Tramandaí, no litoral norte do Rio Grande do Sul. A portaria interministerial foi publicada terça-feira (4) em edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU). A pesca do crustáceo está liberada até 21 de junho, data final da safra de camarão no Estado. Os pescadores demonstram alívio e já pescam no rio.
O presidente da Associação dos Pescadores e secretário de Pesca de Imbé, Giovani Pereira, afirma que a pesca tem sido "excelente" e os camarões capturados são "graúdos". Conforme medições feitas pelos pescadores, a maioria dos crustáceos está com tamanho acima dos 10 centímetros:
— O pessoal queria vir pescar porque o Seguro Defeso (benefício para a pessoa que sobrevive da pesca artesanal, durante o período em que não puder realizar suas atividades devido à piracema) estava atrasado. Eles começaram a vir pescar e serem presos. Eu tinha de sair de noite para levar advogado para ajudar um e outro. Graças a Deus, agora está todo mundo pescando tranquilo, na paz e levando sustento para casa.
O pescador Jorge Fernandes da Rosa, 59, sobrevive da pesca há 41 anos. Precisa auxiliar no sustento da esposa e de dois filhos, sendo que um possui necessidades especiais. Conforme avalia, o ideal seria que houvesse uma data determinada para a liberação do camarão no rio.
— Tem de ter uma data específica para autorizar, como existe em Rio Grande — diz, enquanto observa os colegas lançar tarrafas na parte sob a ponte Giuseppe Garibaldi, que conecta Imbé a Tramandaí.
Nas duas últimas temporadas, foi difícil o camarão aparecer na água do rio. O motivo foram as chuvas intensas de 2023 e a enchente do ano passado no Estado. Os pescadores explicam que esses fatores "adoçaram" demais o Rio Tramandaí e afastaram o crustáceo.
Felipe Muniz de Oliveira, 40, pesca desde os nove anos de idade. A exemplo dos demais colegas de atividade, ele compartilha seu sentimento em função da demora da liberação por parte do governo federal.
— Todo mundo fica indignado com a situação. Imagina tu esperando uma coisa que ia sair logo e acaba demorando — externaliza.
Em média, os pescadores vendem o quilo do camarão limpo a uma faixa entre R$ 60 e R$ 85, dependendo do tamanho. Mas quem comprar assim como foi pescado, paga mais barato. O valor do quilo pode baixar até R$ 20.
Prefeituras comemoram
A reportagem de Zero Hora entrou em contato com as prefeituras de Tramandaí e Imbé para saber como receberam a liberação da pesca do camarão. Cerca de 2 mil famílias sobrevivem da atividade na região.
— A pesca do camarão é uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento socioeconômico de Tramandaí, garantindo sustento para muitas famílias e movimentando nossa economia local — disse o prefeito de Tramandaí, Juarez Marques da Silva.
Por sua vez, o chefe do Executivo municipal de Imbé, Ique Vedovato, criticou a demora de Brasília para liberar a pesca no Litoral Norte.
— Lamentamos a morosidade do governo federal em conceder as liberações. Não fosse a mobilização das lideranças políticas da região, das prefeituras de Imbé e Tramandaí, além dos esforços somados à pressão e manifestações constantes dos pescadores, talvez não teríamos essa licença em mãos — completou.
O que diz o governo federal
O Ministério da Pesca e Aquicultura foi questionado pela reportagem sobre o motivo para a demora na autorização para a pesca de camarões na Bacia do Rio Tramandaí. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.